sábado, 22 de outubro de 2011

Nossos sonhos favoritos.


Quando me perco de mim,


“Hoje acordei com fome de melodia, pra tocar a vida adiante necessito ser ritmado por alguma boa canção, preciso de alguém pra me conduzir ou para me acompanhar.
Uma parte de mim ontem foi embora durante a chuva pesada e fria, se vocês pudessem ouvir através do intimo silêncio frio daquela noite triste, adentro das gotas fartas e da musicalidade descompassada da chuva o Renato Russo gritava ao fundo uma das mais belas canções de despedida enquanto o Cazuza manso me falava sobre desistência.
 Estou de ombros caídos arfados, eu não aprendi a disfarçar tristeza, nem ao menos quero tentar ser feliz de imediato, a chuva ontem beijou minha alma, lavou meu corpo, mas não levou a dor embora, minhas lagrimas estão misturadas a ela em algum canto e em um dia ou outro o céu ainda vai chorar por mim.
Não quero provar a ninguém que estou bem ou que sou demasiado forte, não pretendo premeditar ou arquitetar uma melhora repentina, sacudir a poeira ou apontar o queixo imponente ao horizonte, para demonstrar a quem me rodeia que sou mais bruto do que pensam, toda essa melhoria vêm vindo mansa, vêm gradativamente lutando contra o lado ruim de estar aqui estagnado por momento, o pós guerra, a calmaria, o repouso, tarda a estabilizar e às vezes falha, já escutei sobre casos que jamais passaram pra um próximo estágio de superação, a mansidão vêm lentamente formigando minhas entranhas e eu vou me rendendo ao comodismo da superação, às vezes o tempo se faz muito tempo, talvez eu seja assim pra sempre, talvez eu seja um fanático contador de enredos bonitos com tristes fins.”

Dia 17/outubro/2011

Até então chovia manso, logo depois o céu desabou firme.

Quando ainda havia vestígios de inocência e credibilidade em um mundo que parecia mais manso e não tão complexo, julguei como tolo poder voltar a vivenciar sonhos que a muito não mais me faziam caso, escolhi caminhar por certos caminhos que a muito haviam deixado de me calejar os pés e atordoar minha alma, naqueles outros tempos eu desfrutava de outra vida, regada de dias insanos, noites boêmias, aventuras sexuais e casuais, dias que pareciam ser cheios de glória.
Quando caí, era como se tudo se perdesse, o passado cheio de insegurança, desprezo e ignorância foi se desmanchando como papel na chuva, fragmentado em pedacinhos minúsculos que não se poderia recompor, tirá-lo da chuva naquele momento era irrelevante. As dúvidas não mais me amedrontavam como a muito vinham se impondo ao meu ego, esta sofrida parte do meu eu estava esfolada de anos atrás ferido por outros poucos medrosos a que me permiti qualquer lapso de sentimento bandido.
Enfim quando escolhi recomeçar por alguns outros conceitos adormecidos ou propositalmente largados esquecidos em qualquer canto obscuro do meu eu, tinha convicção de que todo o mundo havia mudado e acreditei como criança sem pestanejar que todas as palavras pronunciadas timidamente eram cabíveis aos sonhos verdadeiros de idealistas insanos, era fé cega! A timidez em sua face serena camuflava outro ego ferido que apenas se permitia as coisas mais fáceis mundanas, diferente de mim, eu toda a vida acreditei poder sempre um pouco mais além de meus limites. É de pureza tão íntima, mas também tão visível, tão carnal que pelas expressões faciais nitidamente se podia notar, aqueles olhos brilhando carismáticos juntamente com os lábios suaves de contorno exato estendidos de canto a canto me fizeram crer imaturamente em outro tipo de vida, tem gosto aparentemente orgulhoso o pronunciar, “eu me deixei levar, deixei ser dono de mim”.

“- Nem ao menos posso me envergonhar em dizer que poderia escolher facilmente ser pequeno, ser pouco, ser um inconseqüente eloqüente, tanto atirado quanto desleixado. Quando percebi, de sobra já havia menosprezado quase toda grandeza que habita mim, fiz isso de coração aberto, de olhos fechados, me fiz vassalo e ingênuo, teimoso e insistente, nunca fui tão pouco orgulhoso ou fogoso. Agora nem ao menos quero ser cauteloso quando grito que fiz o que fiz simplesmente porque escolhi habitar o mesmo mundo que outrem.” Até parece que algum dia eu vivi.


Em primeiro segundo pós escolha se esvairia de mim toda aquela angústia diária incessante, ao contrario da gradatividade de emoções ruins ou daquele peso nas costas, crescia em mim outros sentimentos com ênfase de graciosidade, dali adiante não haveria como retornar, como frear ou muito menos parar, era como um câncer me consumindo, eu estava sob as gotas, meu guarda chuva tinha esquecido em casa.
 Eu nunca aprendi a chorar pouco, a respirar pouco, a ser feliz pela metade e o amor enfim como o mais impiedoso me matou quase sempre, depois da primeira, segunda ou terceira sempre nos achamos mais intocados, impermeáveis, endurecidos, um infinito de nomeações que nos remetem a idéia de sermos fortes, mentimos a nos mesmos que é sempre menos que antes o que sentiremos adiante, não posso ser tolerante, muito menos simples, meus detalhes me formam como um quebra cabeças de partes infinitas, detalhes minúsculos que precisam de encaixes perfeitos.
Quando me abraçou firme, o frio se foi, eu tolo esperançoso rezei aos céus pra que aquilo fosse à continuidade dos nossos dias de orgulho, por um minuto ou vários que se perderam naquele esboço de sentimento acreditei que nossos sonhos voltaram a se encontrar, que cuidaríamos um do outro como em nossa velha canção comum ditava, estava seguro de que os esforços e todas as lagrimas não teriam sido em vão. Naquele lapso de credulidade o mundo parou perplexo diante de mim, eu me senti esplêndido sendo alcançado só por você, ele nos deu tempo suficiente para sentirmos o calor intimo retórico que acendia o físico, o cheiro eterno que dilacerava o espirito e o toque infinito que desrespeitava a pureza consciente de todo meu eu, todos eles distintos para que deixasse nitidamente claro a idéia de que ainda acordaríamos suados sozinhos em nossas camas mesmo estando em companhia de um ou outro sem nome, sem gosto, sem canção, com sensação de ter revivido dias menos nublados, menos desbotados, sem este amargo na boca de sonhos idealistas perdidos.
Fui embora sob a chuva, perdido sob a água fria e pesada que lavava meu corpo e beijava minha alma, meus pés estavam descompassados e eu decepcionado, meu espírito se isolara em um canto obscuro pra privar se do mundo insano, eu sai com um espaço vago incalculável em meio ao meu peito, achei que a morte chegara recente dado mãos com a absurda dor transparecida em pranto insano, alguém acabara de arrancar parte essencial de mim atirando-a em qualquer canto sem piedade se quer.    Eu não lhe culpo por não poder viver no mesmo mundo que eu, por não ter asas tão grandes quanto eram as minhas antes de apará-las pra estar com você, se eu fosse anjo igual quando bem me nomeava naqueles dias mais justos, eu teria deixado toda a minha eternidade de lado pra estar a mercê de um mundo complicado simplesmente atado a quem fosse dono de mim.


“Mas por estar logicamente vivo, aprecio a vaga lembrança de sonhos roubados enquanto o Nando diz ao fundo tudo que eu gostaria de ter cantado pra você, eu só lamento pelo tempo perdido, entenda minhas lagrimas derramadas como sendo apenas indícios de vida verdadeira, elas serão lembradas apenas como detalhes de histórias de sobre mim. Tenho pena dos brutos, pois nunca viveram de verdade, depois de muito sofrer ainda creio que anjos existam caminhando por ai.”

(Rafael Augusto Oliveira)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sou eu quem se perdeu.



Eu sei que você dormiu abraçada aquela coberta que ainda guarda o perfume incomum e que ao fechar os teus olhos cansados admirou a imagem de dois corpos que viviam o deslumbre de tempos que pareciam gloriosos e eternos, esses dias eram bem mais cheios de cor e calor, comparado a estes dispostos hoje frios, desbotados e temperamentais, perderam se ali duas almas dispostas ao infinito.

- Agüente firme mais um pouco, ainda é cedo pra chorar.

 Poderia ser uma noite quente em que esta companhia muda não lhe trouxesse tanto conforto quanto outra hora lhe fizera ao aquecer os pensamentos fartos, deixando-a resguardando pelo dia seguinte quando a insônia ansiosa lhe fazia desejar que a noite fosse curta e que o dia seguinte ao lado de seu “amor” fosse o mais longo possível, eu sei que, contudo ainda assim, se entrelaçaria a ela buscando qualquer vestígio de quem já se foi há algum tempo, mesmo que aquilo ao seu raciocínio orgulhoso lhe atirasse a falta de orgulho, o perfume brando ainda lhe faria estremecer e chorar pedindo ao vago quarto que vocês voltassem a se unir.

- Respire fundo, e percebera que este aroma te levará as memórias que talvez estivessem perdidas.

Eu sei que parecem anos, mas foi só há algumas horas apenas que ela lhe deixou em pranto largada de forma qualquer, cabisbaixa a mercê de qualquer lapso insano que lhe parecia lógico e fácil naquele momento. Comigo também foi assim, eu queria saídas fáceis e até mesquinhas, nada corajoso diga se de passagem, mas na medida em que podemos ficar bem, vem surgindo sorrateiros sentimentos e fagulhas de imagens de dias mais alegres que estes, e é nesta hora que encontramos o que nomeamos como “a dor do vazio”, desde que chegou ela vêm se impondo a mim mostrando ser superior a qualquer outra sensação existente aqui, não se podia mais sorrir, se alegrar, ter prazer ou até mesmo chorar sem que ela preenchesse o incalculável espaço vago em mim, o vazio se tornando dor, e a dor sendo conseqüência daquele vazio crônico.
Se lhe pedem explicação do que sentes você elabora qualquer diálogo fadigado de filme mexicano dublado, ou de um drama trágico francês e diz mentindo sem chance de credibilidade pelo espectador adiante que esta adoentada, fadigada do trabalho, que tem tido insônia, que lhe falta um pouco de apetite, que o mau humor ou a alta taxa de sensibilidade emocional é causado por uma TPM que já vem fazendo um ciclo vicioso nessas últimas três semanas, enquanto na verdade a garganta arde apertada e a boca amarga deixa sem graça teu prato favorito ao paladar, o peito queima acelerado te fazendo ficar acordada a lucidez de pensamentos bons que se tornam ruins e confusos, teu corpo parece soluçar as dores de cada batimento daquele coração dolorido, sua mente esta tão cansada que você só se concentra em achar razões quaisquer para dar lógica a toda aquela cena de fim, maldito desamor que nos vai deixando sem razão.

- Desate o último botão da camisa e respire devagar, não deixe que seus olhos lacrimejados molhem teu rosto e estraguem sua maquiagem pesada, ajeite teu cabelo e erga o queixo rumo ao céu, se quiser pode me abraçar.

Enfim, seu corpo agora não reage mais tão lúcido ou tão voraz quanto antes, é frustrante eu sei. Não se pode mais controlar tua mente que submerge em um mar emocional desgastante, desconhecido, nosso lado sempre parecerá mais desfavorável ou desconfortável que o do outro, e por fim ainda somos egoístas e orgulhosos, mas é porque nós que quando de corpos viris e almas deslavadas diríamos em outro dia que só se encontra assim quem quer, agora pagamos a língua como bestas inocentes, e dedicamos nossos dias a lamentar injuriada a perda de um membro recente, sim, é como se tivessem me arrancado um braço, ou uma perna, ou qualquer parte que faria grande falta em mim.

- Jamais vacilaríamos ou seriamos desleixados como outros, não existiria um coração a mercê ou jamais seriamos tapete para alguém, este um dia foi o nosso mal.

Em outras palavras ousamos ser quem quiséssemos ser, sem pestanejar a reação decadente de alguém, é apenas desdém por algo que não encontramos ainda, que nem ao menos sabemos o que procurávamos, quando não se conhece não se deseja e se não deseja não lhe faz falta. Apenas não tínhamos noção exata das proporções que tais sentimentos nos levariam, vivíamos pelo dia pós outro, e agora mendigamos milésimos de segundos que nos levariam a uma inconsciente realidade não tão boa, nada parecida com o que realmente sonhamos.

- O problema é experimentar!

            A quem se sujeitasse a nossa língua ou ao nosso vaivém de quadris que não esperasse imediata aspiração ao mundo lógico de nossos sentimentos, afinal não somos tão coerentes como a maioria aparenta ser, sendo assim talvez não existisse uma noite pós outra, ou uma troca de telefonemas ou cartas de amor demonstrando a fragilidade do nosso ser a qualquer um que premeditasse atar suas mãos as nossas e que não mais nos permitisse idealizar a liberdade solitária que queríamos, eu sei bem que ao final seriamos taxados de desprezíveis, frios, assentimentais, quando na verdade somos escarnados gêmeos piscianos de incalculável sensibilidade, sonhadores sem limites. Nas horas de apelo, quando o ego está ferido e o corpo desanimado, nossa mente sem perspectiva nos leva a desejar qualquer sensação semelhante do que vivenciamos. Agora que nos encontramos distante de sermos frias frígidas almas desbotadas lamentamos o desdém de quem nos mostrou o amor e em seguida nos fez querer “desamar”, e por passar a ser crente em qualquer coisa que nos tirasse daquela queda livre em uma fossa obscura começamos a recorrer a qualquer ajuda divina ou até mesmo a uma cartomante daquelas de esquina, que nos fizesse agarrar a idéia de que ao final tudo seria mais uma história de relacionamentos duradouros, que ali não seria um fim aplicável.

- Pode acender um cigarro favorito em comum, eu também conheço sua saudade.

Quando estiver sozinha olhe para o nada e bem diga sobre os bons dias passados quando ainda éramos quem éramos cabíveis de vários pseudos amores simultâneos, esses dias me dão saudade, eles eram tão mais lúcidos que estes, mas não despreze esses dias atuais, em algum outro momento futuro iremos rir de nossas prematuras perdas. Se lhe faz bem pragueje a quem foi embora que sofra ao abandono de outro alguém, de forma cruel e egoísta seja sincera mesmo que enraiveça você ter a certeza de que amará este alguém por um longo tempo indeterminado.
Você ainda sofrerá tremeliques, e perderá a compostura sempre que simplesmente lhe pronunciarem este nome que repetidamente martela em sua cabeça e lhe fere a alma. Depois de longos desgastantes dias, em uma hora ou outra acordará menos mal, vai conseguir rejeitar alguns telefonemas, jogar fora algumas lembranças, ou até mesmo sentir raiva para favorecer o desapego, um dia o cigarro incomum será apenas mais um cigarro, e seus lapsos de tendência suicida serão projetados a uma vaga lembrança de um passado distante e incoerente, talvez nesta hora ao pensar nisso você esteja em uma cama quente e macia, abraçada simetricamente confortável pelos braços de um novo alguém, sentirás um novo tipo de paixão, algo que te esquente a alma e te supri metade deste vazio, por um tempo vai bastar, este novo amor será seu refúgio, sua fortaleza e nele descansará até que esteja pronta para viver outro mesmo amor, mas se vacilar e se perder em pensamentos antigos ainda se pegará chorando por alguém que a face já nem mais lhe é tão nítida, sentirá saudades de alguém que deixou de conhecer, alguém que talvez nunca existiu, estará diante do teu eu vazio.

- Não chore! São apenas cicatrizes.


“Se deixares de acreditar no amor, ai sim lhe chamarei de vazio covarde,
deixe o desamor para os ignorantes desalmados.”



Para minha amiga chorona pisciana.


(Rafael Augusto)

sábado, 3 de setembro de 2011

Entre o que eu quero e o que posso viver.

       Quando me degustei daquela boca insana, mergulhei em proporções que outrora pareciam mais fartas, mas foi ao sentir tua saliva quente viscosa, misturada a cerveja amarga que encontrei em mim memórias frias e severas de final de julho, era hora de rir escancaradamente para não chorar de covardia.
            Nesta hora o nó que estava atando a garganta me sufocando desde sempre se desenrolava ao buscar a sincronia de uma língua ágil e desesperada, sua dona era solitária visto pelo que apresentara a mim, tinha em si uma silhueta obscura de burguesia boemia e medrosa estagnada a uma vida insegura de prazeres secretos e culposos impostos pela sociedade politicamente correta, isso ainda me fortaleceu o desejo casual de consentir ao pecado teu, aliviando lhe da proposta imposta de suas formalidades sexuais reprimidas, era um espetáculo armado onde as apresentações decorridas deixaram um palhaço despido e deprimido a mercê de um público que mendigava pela graça de alguns sorrisos, mesmo que os mesmo coubessem em um rosto pálido e irônico.
            Em meu íntimo pensamento me martelava a idéia de que o outro que partira há poucos dias agora busca levar contigo de bagagem uma crua realidade hipócrita oferecida de bandeja pela “minha” vaga idéia de sociedade formalista e retraída, me vêm à certeza de que em dias passados este fora bem mais cruel e verdadeiro quando chegava manso me fitando sublime e de forma peculiar, era onipresente mesmo não estando ali, naqueles dias de remanso eu gostaria de ler seus pensamentos, sendo eles os mais serenos ou os mais maquiavélicos que se podia deduzir pelas suas expressões faciais ou seu vago olhar, eu assim poderia sentir-me mais confiante no que dizer na cena seguinte, porém enfim continuei com os cigarros habituais e agora a realidade estava desnudo na cama de alguém, acompanhado e ao mesmo tempo sozinho pra dar ênfase a sensação melancólica de saudade, enfim era mesmo covardia misturada a desespero que nos atirava a um abismo de clichês que nem ao menos fazem sentido.
            Quando buscava conforto em mim, estava apegado a uma figura real que lhe fartava determinados anseios, mas acho que mesmo assim ainda buscava outros, eu fui assim por um tempo teu porto imponente seguro e continuei tentando outras soluções para o que fazia falta a tua idéia de bons sonhos em dias de pranto. Depois com o tempo de certa forma fui desaparecendo em finais de tardes fadigadas onde as coisas não mais passavam do casual, um café, um cigarro, cinco minutos de companhia, daí então me perdi em meados de memórias quentes de um inverno frígido de fim mês, agora estou embaraçadamente desconfortável roçando em uma pele que nem era tão quente e que nem ao menos fazia desatar de meu mundo passado, pessoal e peculiar. 
            Minha boca amarga o último gole destemido depois de desprendido da língua fervorosa que percorria as minhas extremidades mais intimas nuas, a noite era quente, mas naquele espaço sem fim habitava mesmo era uma frustração gélida, depois do carnal vêm à sensação de continuar estagnado à mesmice dos desejos, sozinho entregue ao clichê de acender um último cigarro antes que a noite termine, antes que eu vista roupa para partir, “até nunca mais”, pretendo tentar dormir subitamente e crer cegamente que ao acordar seria você dormindo profundamente ao meu lado, confortável a mercê de qualquer atitude real, viável as minhas mãos e não mais só em meus sonhos, entre nós só mediria alguns poucos centímetros de respiração tranqüila de um sono pesado arfado de dias mais cansativos, estaríamos enfim vivendo nosso sonho particular, uma a dispor dos cuidados do outro, estaríamos vivendo.
            Tenho pena das almas solitárias que buscam a contemplação da vida no espírito livre e cheio de luxuria de outros, estes encontraram apenas desapego, desconforto o desamor, a realidade estará despida para seus olhos imaturos fazendo com que os sonhos se assemelhem a realidade e nós mesmos não saberemos mais distingui-los, viveremos sonhando ou sonharemos com o gosto da vida, estes que ainda não sabem amar serão solitários sobreviventes da casualidade mundana, pois também não foram amados, se alguém lhes entregasse um coração oferecendo o desconhecido e intrigante emaranhado de sensações agregadas a tal sentimento, se encontrariam boquiabertos de espanto buscando explicações que talvez fossem irracionais ao que lhes foi imposto, é um misto de insanidade e felicidade, de malicia e inocência.
            Agora mais aliviado depois saciar temporariamente o que estava inquieto em mim desde sempre, pude desviar meus pensamentos a idéia absurda de que pós ali viria à calmaria imediata, mas minha lucidez foi tomada depois dos suspiros arfantes e gemidos gritados, pelo ato eu poderia deduzir se não estivesse ali que alguém estaria morrendo, e de certa forma estava realmente, os dois, cada um da forma mais cabível, se perdendo na casualidade assentimental do momento. O erro exato de toda história foi ter me desprendido de meus pensamentos naquele instante, voltando ao realismo da cena do quarto a meia luz, não havia mais clímax, nem tão pouco excitação, nem muito menos haveria romantismo a seguir por minha parte sendo eu quem sempre fui, que este não esperasse de mim a fuga de seu retiro solitário e nada empolgante, em alguns minutos seguintes eu não estaria mais ai, e ao partir não lhe estenderia a mão para tirar-lhe de sua masmorra, nem tão pouco voltaria a afagar-lhe os anseios carnais de uma alma desesperada, o quarto voltaria a ficar vazio, e suas noites seriam a desejar que outras assim não voltassem a acontecer.
           
- Meu nome?
Com um último lapso de coragem e esperança de uma proximidade vaga me ofereceu um sorriso de canto sujeitando-se pela derradeira vez a meu desdém, me indagando. E eu por vez, nem ao menos vacilei, ou repensei no que dizer.
- Me chame de “alguém”.
Ouviu-me pelas costas.
- Adeus até nunca mais.


            “Em cada segundo eu posso criar um novo futuro, mas não posso apagar o que construí de meu passado.”

Rafael Augusto

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Oração de Despedida.



Era para ser uma simples despedida de fim de noite, lá pelas quatro e pouco, depois de uma transa pouco convincente, de uma troca subjetiva de fluídos corporais, e de um diálogo sobre nossas íntimas pendências, ela decidiu a um não mais um “meio termo” de nosso convívio , e partiu, o que era pra ser um simples “até amanhã”  não soou de tal forma. Sem ao menos pestanejar ou tão pouco vacilar, seu jeito manso naquele instante se voltou ao típico ser bruto e frio quando me deixou sentado na borda da cama no quarto a meia luz, sentindo o lençol ainda quente apertado entre uma das minhas mãos enquanto a outra acariciava desesperadamente meu cabelo desregular, adiante a porta se fechava de maneira grosseira sem deixar espaço pra qualquer diálogo desesperado de reconciliação ao qual coube em outros momentos de irracionais ocasiões.
Seus passos que antes eram apressados, rígidos e previsíveis, donos de um próprio mundo, agora ecoaram de forma passiva a cena anterior, se arrastando de forma indecisa e melancólica, ao som de uma música qualquer da nossa seleção favorita ao fundo, dando espaço para uma cena dramática de qualquer filme favorito nosso, pareceu inevitável não chorar naquele momento, a penumbra silhueta que adentrava o vazio final, dobrando a última esquina corredor alcançando enfim uma escadaria sem fim estava tão cabisbaixa e solitária quanto eu pude imaginar. Ela partiu antes da hora, levou com ela meu calor, alguns retratos, e o último cigarro que acendera depois do orgasmo fingido.
  Ainda nem eram cinco quando comecei a planejar o próximo passo do começo de semana boêmio que decorreria com certeza a partir dali, eu não poderia fugir do clássico clichê previsível de finais de relacionamentos, só não me abusei de um balcão qualquer porque realmente não desejava um público tão mais com aparência de falecido do que eu. Em um lapso de vácuo lógico me encontrei tragando e degustando compulsivamente o sabor de uma vodka ardida e amarga da última noite de bebedeira, nunca fui fã de vodka, mas naquele momento eu poderia refletir dando exatidão imediata que desde sempre também nunca fui um grande apreciador de despedidas prematuras.
No canto pouco iluminado a mesinha de forro xadrez avermelhado se impunha para mim de maneira simpática de forma a me mostrar que sobre ela ainda parava sutil algumas outras quantas fotografias recentes, um envelope branco mudo e alguns papéis de carta com grafia ligeira, complexa e decidida desde algum tempo.
Agora depois de ler a carta e ter sujeitado a mais uma transa que se dizia forjada, fico perguntando complexado porque se entregara mais umas vez a mim, sendo que seria ali um ponto final do que vínhamos chamando de “sobrevivência”?
Usei enfim algo que li na carta explicativa para me confortar até certo ponto, coisas tristes me vêm de forma fácil na cabeça quando nem ao menos faço questão, posso descrever não com tanta exatidão o que ela dizia, mas lembrarei o que coube a mim entender o que me escrevera.

“Já era hora de deixarmos de lado nossa convivência adaptada para que ambos não se sintam sozinhos. Quando te vi pela primeira vez na mesinha do café da esquina, enquanto você lia seus intrigantes suspenses parecendo se perder entre eles me apaixonei de primeiro momento, mas foi quando você me sorriu e ofereceu companhia pro café é que tive certeza de que gostaria de sua estadia comigo por todos os outros dias seguintes, seus olhos me fitaram de maneira singela e provocante, aquilo me acendia a alma, e definitivamente me calava a solidão, eu me controlei até o ponto em que senti você respirando quente a milímetros de meus lábios e lá se foi o nosso primeiro beijo, tinha gosto de café e cigarros, tinha um gosto muito bom.
Com o tempo nossas aparências complexadas e nada viris foram se erguendo de forma muito perceptível, nossas noites não se definiam mais em prazer ou amor, existiam demasiados gemidos quentes e outros tantos sussurros delicados, juras e promessas de um sonho eterno que nos dois compartilhamos entrelaçados um ao outro em nosso pequeno mundo que chamamos de cama.
Não sei em que ponto paramos de sonhar, ou de fazer questão de enfeitar nosso dia-a-dia, você não mais me dedicava seus contos com tanta freqüência, e eu tão pouco fazia questão de procurar novas e futuras canções que seriam nossas, o que era íntimo foi ficando comum demasiado, foi quando percebi que sentia falta de você me adorando, acariciando e cheirando de maneira deslumbrada cada centímetro do meu corpo, me arrancando risos prazerosos enquanto alcançava determinadas curvas em mim. Os detalhes mais brilhantes que eu enxerguei em nós foram ficando de lado, então me decidi, decidi por nós dois não mais ficar por aqui, talvez assim sintamos falta um do outro, lembraremos de desejo incomum que compartilhamos outros tantos dias, mas que agora não passa do casual.
Não deixei de te querer, nem deixei de sonhar, o que estou deixando é uma parte de mim ai com você, espero que ainda cuide dela, talvez um dia eu lhe bata a porta lhe pedindo de volta algo que ainda pode me pertencer.”

Rabiscou ao final em rodapé algum meado de palavras que remetiam a uma das primeiras canções favoritas, assinou delicado, decidiu e partiu.

Eu fiquei espreitando de momento a momento as sombras por debaixo da porta, com duas metades de coração em mãos, uma minha e outra tua, esperando ouvir a fechadura girando a porta se abrindo e antes que você se aproximasse de um abraço eu já estaria sentido seu perfume doce outra vez me fazendo estremecer por nossos detalhes que não estavam tão perdidos assim quanto você queixara. Mas ao fim bêbado, largado e boêmio eu dormi, rezando e suplicando a Deus para não acordar sem que você estivesse ali. 

domingo, 7 de agosto de 2011

Onde os Anjos ainda não tem vez.

Achei que seria prazeroso sair mais uma vez de casa e esperar que o calor e a luz ofuscante do sol me revigorasse, que o dia ia ser o mais brilhante de todos os tempos, então me expus. Daí então antes de sair me olhei umas quantas outras vezes perdidas no espelho mudo, esperando uma resposta qualquer de onde eu deveria ir, eu olhei firmemente em meus olhos, meu queixo estava rígido, e a garganta um tanto seca. Encarei mais alguns segundos uma silhueta pálida que me remetia coisas não tão agradáveis quanto eu queria, ela não me sorria e nem tão pouco fazia algum esforço para que eu sorrisse também.
Uma vontade escandalosa de me aquietar embaixo do chuveiro em um desabafo frio e confortante ao gélido piso mudo me veio do mais intimo possível, eu queria mesmo ficar ali, largado, talvez um cigarro ou outro para me fazer lembrar tantas outras coisas, aos olhos do espelho mudo precipitei que figura pálida ali me consentia a fazer o mesmo, e de tempo a tempo o dia que eu enxerguei cabível de raios quentes e de essência alegre foi ficando obscuro, se turvando e desmanchando se na imagem de uma noite pesada, bandida, e vazia.
Em minha mente vagarosamente foram adentrando pensamentos secos e eloqüentes, aqueles olhos pequenos de cílios negros que me fizeram perder o fôlego tantas outras vezes voltaram a me encontrar, daí então fui espatifando o que vestia e deixando o sossego que veio tardio ir embora devagarzinho, mas eu tinha pressa, agora pensava no cheiro de sua camisa colada contornando levemente a silhueta mais desejada dos últimos tempos, isso sim me vazia tremer.
O vapor do chuveiro começava a embaçar todo o clima, e turvar ainda mais a visão do que era real ou surreal ali, não fazia frio nem calor neste momento, apenas existia um vazio estremecedor que me encaminhava água a baixo, o toque da pele quente no azulejo frio não era desagradável como outras vezes, era quase a mesma sensação de que senti quando me veio em recepção desagradável a noticia de que nosso encontro de amanha estaria desmarcado pra um dia não mais cabível a mim ou a você.
Perdi-me por algum tempo ali, estagnado sem noção de momento, apenas ali, sem qualquer fator externo me incomodando, a não ser a música melancólica que soava agradável ao clima, o que me incomodava realmente e sem previsão de ir embora era o que vinha de dentro, isso sim, rasgava as entranhas de minha alma sem pestanejar ou vacilar por qualquer momento, quando essa dor vinha se misturava com a nostalgia de outros tempos já superados e fazia questão de me mostrar o quanto ela era exata e suprema, acho que nunca me acostumarei com ela.
Continuei ali pelo tempo indeciso que precisei e até onde suportei o sufoco entre os cigarros e o vapor quente apertando meus peitos, eu queria um abraço, um conforto, sentir frio ou calor junto a alguém, queria me arrancar o ar enquanto abusava do arfar de outro alguém, então lhe telefonei.
Agora diante do espelho novamente couberam palavras mais sensíveis do que eu lhe vinha dizendo de forma a soar sutil, mas de certa forma com um interesse vazio agregado, eu sei que dou outro lado alguém sorria enquanto eu lhe convidada a pertencer a um mundo que ainda não era só meu, eu quase podia lhe ouvir sorrindo abafado e lhe enxergar arfando pesado de vontade recíproca, eu lhe ofereci conforto que outros tempos me pedira chorando, lhe ofereci braços, mãos, lhe ofereci um corpo fadigado e vazio, e você entendeu como sendo o “tudo” que você cobiçara desde muito tempo, e mais que de imediato consentiu que viria até mim.
O telefone se calou, eu me concentrei em vestir qualquer roupa que lhe fizesse acreditar que eu era o mesmo de sempre, que eu era frio, amável e inconseqüente, mas isso não bastava, acho que meu brilho estava ofuscado de forma muito perceptível a qualquer um que me conhecesse pelas metades. E mais cedo do que de costume você bateu a minha porta, mas como sempre foi tarde pra qualquer coisa, meus sorrisos forjados caíram, tão rápidos quanto meu corpo em seus braços, eu ouvi metade do que você disse e outra metade não me acompanhou, eu estava pensando em historias de amor, em meus filmes favoritos, em músicas que falavam por mim, eu só estava ali pela metade, a metade não tão boa de mim, estava a ver navios.



- Eu lhe abracei apertado, ainda molhado, lhe pedi desculpas imediatas e insanas, ele consentiu e compreendeu, pra alguém que me desejava desde outros dias sei que foi de ingenuidade que ele me sorriu e pediu que eu lhe chamasse de volta quando eu fosse dono de mim mesmo, e assim partiu pra voltar só quando lhe oferecesse algo que ele cobiçava de verdade.

Desculpa, até o dia em que couber mais alguém aqui.

sexta-feira, 29 de julho de 2011

Assim.


Triste orgulho irônico que me atordoa antes mesmo que eu acorde,
Sonhos insanos que me dispõem como um ofendido covarde corajoso,
E ainda ao fim um humilde furioso.                       
A desilusão que veio eminente faz meu céu atar ao inferno,
Trazendo o desconforto como um doce veneno diário,
Correndo em meu corpo com um ardor espantoso,
Levando a minha face pálida vários sorrisos tristes.
Há quem diga que eu sou insano,
Há quem pense que sou exato,
Sou apenas um furioso e descontente dramaturgo desalmado,
Minha alma a muito não me faz caso,
Em meu corpo o abrigo vazio do desejo,
Lhe bem digo fraco balbuciando,
Se queres ainda assim amar, entenda primeiro sobre desilusão.

quarta-feira, 27 de julho de 2011

As partes que cabem em mim.




Na verdade nunca fui e nem tão pouco tenho pretensão a ser o estereótipo comum e entediante que a sociedade propõe como “ser normal”. Talvez eu escreva para que minhas palavras me sirvam de refúgio, talvez eu escreva por não funcionar tão bem quanto aparento funcionar, não me sinto em pleno vapor como ser humano.
A divergência que existe de sensações que habitam em meu intimo, até me levam a crer em demasiadas personalidades. Personificação de um maldito ser ambíguo e demasiado complexo mesmo para mim, mas já me acostumei, agora até escrevo enquanto reflito sobre isso.

Às vezes, quase sempre.

Um dia ou outro encontro uma calmaria que desejo pela eternidade, e é ai que escrevo, entorno meu café e abocanho um outro cigarro, acho que nesses dias eu sou um servo do meu eu de personificação mais forte, aquele de personalidade mais fria e bruta, e não ao contrario, daí não fico pelo meio, balanceando-me entre o certo e o errado,  pendendo entre o pudor culposo e a liberdade insana, me sinto livre a desejar algo mais e preso a algo que me faz estagnar, algo que sei o que é e que não consigo alcançar em uma realidade lúcida.
Quando eu estou assim, livre das faces em mim as quais tenho grande apatia, tento entender sobre um sentimento que ainda se faz incomum ao meu eu, o clichê do amor. Tenho a impressão de que seja uma sensação desleixada, do tipo que não se preocupa em causar impactos que deixam rastros visíveis e de boa aparência logo de primeira, às vezes vem assim, sorrateiro, brincalhão, irônico chegando a ser ilógico, suave e apreensivo, e ao final bandido, ou ainda pode vir de forma contrária, ser bandido, soar como suave, nos deixar apreensivo, se dispor como brincalhão, carregado de ilusionismo chegando a ser suave, um brilho irônico, e ao final você se encontra com um vácuo sem fim, atado a alguma coisa perdida, não conseguindo razão enquanto chora e respira pesado, sentido um nó que te cabe como uma gravata bem laçada e apertada ao pé do pescoço. Já lhe digo logo, chorar não lhe recupera um coração.
Foi pensando assim que eu cheguei ao meio termo conclusivo de que o amor entre dois seres é o mesmo que a junção de duas partes semelhantes de uma peça única, apenas em cada parte está disposta um conteúdo diferente, em cada uma existe algo que preenche de forma suficiente os espaços vagos que sobra do outro lado, se faz falta uma das peças, se alguma fica perdida, se quebra ou não se dispõe pela outra, esta então deixa lacunas de medidas inexatas. É assim que eu o imagino, o amor então seria a falta da ausência.
O mal do ser humano então, o erro de tamanho não calculável seria ceder a alguém o gosto de amá-lo, não tendo a disposição real para que pudesse amparar tal fardo, não tendo a intenção verdadeira de amá-lo em retribuição.
Agora me torturo pensando, apesar dos pesares, apesar da forma com que interpreto as coisas, da fragilidade que adorna minha alma, sabendo dos riscos e possíveis racionais conseqüências, porque ainda me pego aqui? Assim, bestificado, abobado e largado, pelo mesmo motivo clichê de sempre, com pretensão esperançosa de viver historias bonitas sem enredos que me levem a um final vazio.


Acho que preciso mesmo é ir além, expandir a mente, deixar algumas coisas, e buscar outras que nunca tive, preciso de uma vida nova, preciso ser melhor que isso tudo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

O avesso de mim.



 Quando escrevo é porque sinto vontade de lhe falar verbalmente.
 Queria sentar-me mais chegado a você nestes dias mais frios e ter por fim como repouso para a cabeça seu colo macio, ou seu ombro seguro, ter suas mãos quentes e pesadas encontrando meus cabelos, minhas orelhas, meu pescoço, sentir enfim a carícia e o afago da delicadeza das pontas dos seus dedos, quase me tocando além físico, e eu enquanto isso fecho os olhos me perdendo do restante de todo um mundo vazio e complicado, premeditando um contexto que viria a seguir quando eu voltar a reabri-los, e balbuciar alguma coisa.
     Minhas palavras empapadas de lamentação enquanto lhe escrevo, quase choram rios de sarcasmo, e tendem a sair modeladas ironicamente aos olhos dos que só querem ler contos de fadas abobados e irreais. Pobre dos inocentes que ainda não conhecem o desamor, o desencanto, o desprazer, eu a muito descobri que os cavalos brancos não trazem o que a gente realmente sonha em ter, e este sim é meu conto, um conto real e irônico, calculista e aflito, meio atordoado vou deixando o “Era uma vez” pro final, pós aí um ponto. Sei bem que existe uma linha tênue que me corta ao meio, me parte em dois lados exatos e incomuns, imagine isso como o dia e a noite, a lua e o sol, o prazer e a dor, o racional e o ilógico, tudo isso se convergindo, entrando em combustão dentro de mim, esse linha tênue traça meu mundo, me envolve até o pescoço, e da um nó na garganta, agora deixo minha mente atirada a pensamentos quaisquer, perdida em um emaranhado de sensações, e enfim os meus sorrisos expandidos de canto a canto andam em paralelo com minhas lágrimas, um em cada parte dividida de mim, um bom, um ruim, um quente, um frio, o doce e outro amargo, e quando se cruzam, se unem, e se complicam, assim então posso às vezes chorar de alegria, ou ainda rir da tristeza.
 Hoje eu escolhi sair, tomar um café e sentir-me mal, sei que vou estar pesado, arfando quente entre um trago e outro, meus ombros vão estar mais caídos, e meu cabelo não vai estar tão arrumado, e nem minhas roupas tão bem cairão como antes, pretendo deixar a barba crescer, em dias assim escolho estar mais largado, em dias assim escolho, na verdade imponho e prefiro me sentir carente, sozinho, melhor ou digamos pior que isso é sofrer de amor, é sentir desamor, talvez amanha eu seja um hipócrita sorridente.
      Mas hoje não, hoje eu escolho tomar um café, fumar um cigarro, e ficar assim, sozinho, e se amanhã sentir vontade, volto a lhe escrever.

" Se o amor quer me deixar, me deixe num domingo, eu não vou reclamar, posso até achar que ficar só é lindo. " (Maria Bethânia/Roque Ferreira)

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Antes de tentar dormir.



- Guardou?
- Guardei.
- Onde esta?
- Em algum lugar por aqui, não sei dizer exatamente onde coloquei.
- Mas pelo menos me diga se ainda o guarda de verdade? Isso você deve saber.
- Sim, ainda esta comigo.
- Pretende devolvê-lo?
- Talvez em outra hora.
- Que horas são?
- Deve ser quase meia noite, por quê? Onde esta seu relógio? Quer ir embora?
- Só queria saber, desmontei meu relógio e agora não consigo dormir.
- Porque fez isso?
- O tempo não esta fazendo sentindo, prefiro não tentar entendê-lo, nem acompanhá-lo.
- Então tente dormir, amanha tudo passa.
- Já disse que não consigo.
- Então me diz no que esta pensando?
- Estou tentando compreender o que estou sentindo, mas é difícil, parece um sonho.
- Você esta chorando?
- Não, hoje não.
- E porque não chora?
- Não tenho mais lagrimas.
- Quer as minhas emprestadas?
- Talvez mais tarde, agora tenho mesmo é que sorrir.
- E porque não esta sorrindo?
- Porque você me parece triste hoje.
- Entendo, mas talvez possamos tentar juntos.
- Sim podemos tentar, mas pode ser mais tarde?
- Sim, é claro que pode.
- Que horas são?
- Não sei.
- Olhe no seu relógio.
- Eu acabei de tirá-lo.
- Por quê?
- Não quero saber do tempo também, vou arriscar chegar atrasado.
- E você têm medo disso?

- Talvez, mas é o que me resta.
- Entendo. (Sorrisos) Também tenho medo, mas não hoje.
- Porque não hoje? Porque esta sorrindo agora?
- Lembrei que você esta aqui hoje.
- Isso te deixa feliz?
- Sim, isso me deixa feliz. Mas agora tenho que ir embora.
- Mas você volta?
- Talvez. Só se você estiver aqui.
- Até.
- Até.
- .

terça-feira, 12 de julho de 2011

Bom dia, enfim são 11 horas.



      É tentando me encontrar que me perco mais ainda.


      -  Já reparou as horas? Parece que meu relógio se transformou em um objeto de tortura, os segundos se resumem nas horas tardias e arrastadas, é agoniante.

      Queria eu poder não temer o que cresce em mim gradativamente, ou simplesmente deixar de lado o que me entristece, o que me dói, achei que fosse diferente pós uma cura tardia do que vivi outrora, mas sei que não posso arrancar-me “isto”, não agora, assim como não posso tirar-me os braços, o coração, a cabeça.
      Digo que “aquilo” esta mais impreguinado em meu corpo do que a nicotina dos últimos dias.


      - Você esta bem? Sua voz esta mais fraca, esta mansa, triste.

      Ao decorrer destes tempos pálidos, de dias pesados e melancólicos, vou usando de artimanhas para trapacear nos joguinhos que minha mente insiste em te deixar ganhar. Vou tentar então levar meu pensamento a qualquer lugar em que você não tenha vez, nem faça morada, que não tenha vestígio de gosto ou cheiro seu, no momento é necessário deixar de ouvir algumas canções.
      O que tenho aqui são minhas palavras, mais frias e secas do que o clima atual, embebidas em qualquer salvação viciosa, elas são meu abrigo, meu refúgio, meu conforto pessoal e intransferível, não substituem nosso dialogo, mas é melhor do que o nada.


      - Está sentindo frio? Quer meu casaco? deve ter o perfume meu e seu misturado de quando o usei antes ontem se não se importa, não tive tempo de lavar algumas coisas.


      Julho nunca foi tão frio, e minhas noites nunca foram tão longas e lúcidas, eu queria sonhar, mas o que tenho é só um enredo fatigado de um filme mal acabado, os personagens parecem mesmo mimicos, tantas espressões de um mundo colorido pelo sol se reduzindo ao mínimo para um cotidiano pardo e mudo, meus olhos não querem se fechar e nem meu peito aquietar.

      - Escute o vácuo que fica neste silêncio, você tem medo? Eu tenho!

      Não me lembrava como era sentir “isso”, não vou nomear, vou deixar essas colocações pra último caso, acreditar até os segundos finais no que ainda existe, e cultivar, colher ou não cabe ao acaso, ao futuro, ao destino.
      Ainda lhe tenho palavras a serem destrinchadas, largadas, soltas saltitantes, elas querem sair, insistem, gritam sufocadas dentro  de mim. Vou deixar palavras imprecisas ou exatas ao me expressar em um bilhete qualquer, deixar sempre meio rabiscadas, borradas, subtendidas, ou manter guardadas para que sejam só nossas.
      Ainda lhe guardo no meu dia a dia, no meu intimo, no meu físico, e em uma caixa no meu guarda roupa. Nossa vida agora em preto e branco sempre vai me lembrar filmes franceses de enredo dramático, mas de final feliz.

      - O tempo agora insiste em tardar a passar, percebe o quanto ele é precioso agora?
      - Enfim, deixa pra mais tarde.
      - Dois capuchinos com creme, açúcar e com afeto, por favor.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

O primeiro do dia



      Acordei meio amargo, ou seria meio amargurado?
      Definir o que sinto pelas manhãs enquanto vou trabalhar não é algo tão simples, o sono não me deixa pensar livremente em definições, meu corpo não reage aos impulsos que o cérebro tenta emitir de imediato, eu queria mesmo era estar dormindo, pesado, sem sonhar, jogado de qualquer forma meio desmaiado envolto no meu quarto quente, vazio e escuro.
      Infelizmente digo agora meio com cara amassada e cabelo aranzel, meio lúcido “bom dia” a mim mesmo no espelho enjoado, depois de uma copada amarga e escura de goles rápidos vou transportando meu corpo entre um passo e outro, procurando equilibrar-me entre os meados de faces fadigadas, atrasadas, desesperadas por mais um final de semana, sacos de batatas perambulantes, é cada um por si, e pra ser mais sincero todos parecem estar de ressaca, menos eu, é claro que de mim eu tinha plena certeza. Boca seca, corpo abatido, ombros caídos, sentindo o frio arder nas bochechas, fui trocando as pernas e arrastando os pés formigantes até o primeiro botequim visível, este pelas sete e uns meados já pingado por vagabundos em busca da primeira refeição matinal, maldita pinga, me fez lembrar a noite anterior, ainda sinto tremeliques só de pensar em garrafas, não quero voltar a discutir o relacionamento entre eu e meu estômago. Lá tinha café, melhor dizendo "chafé", também tinha mosquitos, em um ambiente "daqueles" é melhor evitar a ânsia e permanecer na azia do dia, nem dei muita importância, queria mesmo era um cigarro, espero que aqueles dedos rachados e amarelos nicotina não tenham tocado o filtro desses dois, pensei assim pra “reevitar” a ânsia. Em dias frios assim, pós finais de semana aburridos, salvos por jogatinas, álcool e nicotina, sem pegação, (parece mais um filme francês filmado no sertão, devo estar com cara de cangaceiro “ressaquiado” indo buscar a próxima quinquilharia de cada dia), é sempre bom tomar um café de verdade, amargo, escuro, forte, daquele bom pra ressaca, bom pro sono, bom pra você se sentir confuso quanto quem é mais amargo, você o dia ou o café.
            De volta à lamentação da caminhada pensando na labuta que viria a seguir, fui deixando para traz um caminho de fumaça, alguns vagabundos maltratados, meio moribundos, aburridos com a vidinha desgastante tentando afogar as magoas no vadio ambiente, um sol mirradinho que tentava aquecer, mas não conseguia, tentativas frustradas, a minha, a dos vagabundos e a do sol. Queria mesmo era dormir, mas enfim, melhor perder mais uns minutos com outro cigarro enquanto me arrasto indignado pelo resto do caminho.

domingo, 10 de julho de 2011

Se quer meu conselho, permita-se.



 

- Espero terminar meu dia podendo sorrir.
Sem que seja de maneira forçada, forjada para disfarçar o que eu realmente estou sentindo.
Quero dormir tranqüilo, afagado, sem esse aperto que me sufoca, sem essas lágrimas que tendem a turvar minhas vistas enquanto lhe escrevo, quero terminar este dia estando seguro que amanha tudo será melhor que hoje, seguro que tenho motivo pra estar aqui.
          Penso muito em desistir, deixar de lado agora que ainda novo é esse gostar, pois se me sinto incapaz agora, como será mais tarde, quando o “gostar” for maior que eu mesmo?
Penso em deixar que devagar a angústia, velha amiga de outros tempos, mesmo que pequena no momento, pois esta abafada por outras emoções, vá corroendo gradativamente essas teorias abobadas que discutimos sobre o coração, teorias que por demais divergências temáticas só nos servem mesmo para dar nome às dores emocionais.

- Que ao final só ela esteja aqui, seria mais fácil despedir assim. Às vezes acredito firmemente que se estiver só estarei mais seguro.
O vazio que habitava aqui outrora, e que por momento não se fazia presente por que você esta aqui, e isto a mim basta, basta mais que tudo definitivamente digo, vai me envolvendo na estranha dramatização de um fim sem começo, ou do começo de um fim, mesmo que esse fim eu não tenha escrito em meu roteiro de vida.
Sinto que te ganhar é tão fácil quanto lhe perder, saiba que pra mim não é fácil estar aqui, mas eu estou, e faço questão de ser presente. Eu me perco rápido, tão fácil quanto você me ganhas, e ao contrario de você, eu tardo a me encontrar a me recompor.
Talvez eu tenha perdido tempo demais preocupado em reerguer outras pessoas, esquecendo de aprender a usar tal artifício em bem próprio.
Eu tenho medo, medo de pensar, de me entregar, tenho medo de ter certezas, de acreditar. Devagar me assombro, me corrompo, me degrado, lamento o outro dia ainda atordoado pelo efeito do álcool barato, da nicotina, e do beijo que me disseram inocentemente que compartilhei.

- Preciso aprender a me entregar sem me perder, viver e arriscar, amar sem te temer, confiar, acreditar, saber sonhar acordado, sabendo que o real faz parte dos sonhos.
Sinto o tempo tão demorado, arrastado, e ao mesmo tempo tão curto, a cada minuto sinto-me mais distante daqui, minha mente vai se afastando devagarzinho, se arrastando melancolicamente, deixando pardo, amarelado e esquecido detalhes que já foram perdidos de certo modo, detalhes que eu queria que fossem só meus, mas que eu compartilhava mesmo sem saber, sem querer. A mim o desapego não cabe como algo instantâneo, tem que ser aos poucos, tem que ser fragmentado, tem que ser doloroso e amargo.

Viver imediatamente, sofrer gradativamente, amar definitivamente, e morrer instantaneamente, deveria ser fácil, tão fácil quanto chorar.

Estou aqui, atado a algo que tenho pouca idéia do que é, e que nem sei se tenho realmente, mas estou aqui, ainda. Porque quando fecho os olhos e te sinto próximo idealizo somente o real, o que pude tocar, sentir, ver, escutar, idealizo o que vivi, é por ter vivido isso, e querer ter muito mais do que tenho em mãos é que estou aqui agora. Até quando não sei, talvez até a força que você pensa que eu tenho se esgotar, força que na verdade jamais tive.
Muralhas não são construídas sem motivo, fiz em mim há muito tempo uma imensamente grande, uma que impedia que eu sentisse outra vez o frio que faz o vazio citado tantas outras vezes, enquanto te contava meus segredos, deveria ter a deixado erguida, pelo menos por um pouco mais de tempo, não que eu não queira sentir o que sinto, pelo contrario, eu quero, mas o temo.
Só estou confuso, triste, perdido em emaranhados de pensamentos e sensações que não consigo entender e nem me desprender, quanto mais tento me encontrar, concentrar-me em algo, me vejo mais perdido e envolvido em você.
Não me peça pra esperar sozinho, ter calma, ou pra compreender relativamente rápido tudo o que existe aqui, posso fazer o máximo, mas não posso com tudo. Todo mundo necessita atenção, e desatenção pra mim é desamor, é desgostar, é falar de algo que somente existe na imaginação, e pra mim não basta só imaginar, sou de carne, sou físico, e me faz falta sua presença.
Ninguém se sente mais aliviado e sossegado sendo assim tudo tão vago, alguns só irão entender entender se sentir como me sinto. Só te peço depois de ler esta que não fique calado quando lhe indagarem, pois o silêncio é perturbador, ele fere, nos faz ficar perdidos.

                                                                                                                                            
“Mais do que um simples querer,
Mais do que um simples gostar,
Mais do que ontem, menos que amanhã,
Eu sei o que sinto, e o que sinto é grande”

Pra repensar.

     E nas ruas que antes secas e estridentes, onde nadavam outrora em um mar de poeira, agora se via o restolho suburbano, indagando lamentavelmente, aburridos de suas vidas mesquinhas.
Logo ali, mais a frente, onde as vistas custam a enxergar, escorregadios na enxurrada imunda das gotas escassas que caiam do céu triste e carregado que ainda ontem fora voraz e medonho se esbaldavam gatos pardos atrás de ratos fartos que futricavam entre os trapos.
       - Eu via da janela. Eu via a vida.
     Ainda me arrepiam os assobios tristonhos do vento que adentravam minha sala úmida e fria, e os estrondosos trovões, os trovões que tilintavam a louça na prateleira, abastecendo ainda mais a sinfonia do medo que pairava por ali.
     Minha prateleira, herdada de minha avó, que herdara também de sua avó, capengava ali no cantinho, solitária e empoeirada, tão mais triste que minha poltrona velha e rasgada, cor de mofo, creio que outrora ela fora verde seco.
     Agora lá do lado de fora a moça do vestido dégradé, quase cinza, que outrora penso ter sido branco ou de um bege clarinho, entregava pães quentes a esposa loira e peituda de seu amante velho e gordo e rico.
      - Eu via.
     Essa tal moça peituda, ainda pouco se via em um cabaré, rodeado de outras tantas meretrizes, fartando-se de uísque quente e cigarros bancados por magnatas que ali deixavam herdeiros bastardos, que depois mais grandinhos faziam sua própria vida assaltando os ricos pais e moribundos.
       - Eu via a vida. Nua e crua naquela época... Mais nua do que crua!
     - O marido? Esse era um banqueiro fedido e gordo que só de bom tinha o dinheiro, desviado do banco por sinal, fumando seu cachimbo negro reluzente, e de forma escrota coçava o saco vagarosamente indiciando que a noite pra sorrateira senhorita dos pães, que lhe fitava descaradamente, que sua noite ia ser longa, mas bem lucrativa, já que era ele que lhe pagava o pensionato, para ela e seu irmão mais novo, com seus vinte e poucos anos.
     Mais adiante na esquina, onde o sol sempre caia cansado de olhar para aquele lugar, sentada na varanda de madeira oca e esfarinhada pelos longos anos de cupins, estavam duas senhoras, uma crente e outra fervorosa, com seus peitos caídos, e vestidos estampados, de nariz empinado, cochichando sem notar o rapaz a reparar as indecências que falavam.
     O rapaz engomadinho, talvez de uma delas fosse o sobrinho, esse ainda pouco era um moleque, agora de pileque ia com alguém se encontrar, a velha mais fofoqueira, disse outra asneira dando tempo dele a escutar.
      “- Ele não perde um rabo de saia.”
       Se bem soubesse a velha senhora, com quem o rapaz namora, nada ia comentar, apressadinho ao pensionato o rapaz se adentrada, ao quarto da moça dos pães foste bater. Um minuto depois...
       - Eu vi quem foi atender, mas prefiro não comentar, você vai ficar a imaginar.
Desviando o olhar agora, encarando a vidraça mais a frente, pude notar um velho a balbuciar palavras descontentes, resmungos incoerentes sobre a vida agitada daquele lugar, se bem lúcido estou ainda a reparar, pensei em acreditar ter um irmão gêmeo.
      -Eu o vi olhando pra mim.