sábado, 22 de outubro de 2011

Nossos sonhos favoritos.


Quando me perco de mim,


“Hoje acordei com fome de melodia, pra tocar a vida adiante necessito ser ritmado por alguma boa canção, preciso de alguém pra me conduzir ou para me acompanhar.
Uma parte de mim ontem foi embora durante a chuva pesada e fria, se vocês pudessem ouvir através do intimo silêncio frio daquela noite triste, adentro das gotas fartas e da musicalidade descompassada da chuva o Renato Russo gritava ao fundo uma das mais belas canções de despedida enquanto o Cazuza manso me falava sobre desistência.
 Estou de ombros caídos arfados, eu não aprendi a disfarçar tristeza, nem ao menos quero tentar ser feliz de imediato, a chuva ontem beijou minha alma, lavou meu corpo, mas não levou a dor embora, minhas lagrimas estão misturadas a ela em algum canto e em um dia ou outro o céu ainda vai chorar por mim.
Não quero provar a ninguém que estou bem ou que sou demasiado forte, não pretendo premeditar ou arquitetar uma melhora repentina, sacudir a poeira ou apontar o queixo imponente ao horizonte, para demonstrar a quem me rodeia que sou mais bruto do que pensam, toda essa melhoria vêm vindo mansa, vêm gradativamente lutando contra o lado ruim de estar aqui estagnado por momento, o pós guerra, a calmaria, o repouso, tarda a estabilizar e às vezes falha, já escutei sobre casos que jamais passaram pra um próximo estágio de superação, a mansidão vêm lentamente formigando minhas entranhas e eu vou me rendendo ao comodismo da superação, às vezes o tempo se faz muito tempo, talvez eu seja assim pra sempre, talvez eu seja um fanático contador de enredos bonitos com tristes fins.”

Dia 17/outubro/2011

Até então chovia manso, logo depois o céu desabou firme.

Quando ainda havia vestígios de inocência e credibilidade em um mundo que parecia mais manso e não tão complexo, julguei como tolo poder voltar a vivenciar sonhos que a muito não mais me faziam caso, escolhi caminhar por certos caminhos que a muito haviam deixado de me calejar os pés e atordoar minha alma, naqueles outros tempos eu desfrutava de outra vida, regada de dias insanos, noites boêmias, aventuras sexuais e casuais, dias que pareciam ser cheios de glória.
Quando caí, era como se tudo se perdesse, o passado cheio de insegurança, desprezo e ignorância foi se desmanchando como papel na chuva, fragmentado em pedacinhos minúsculos que não se poderia recompor, tirá-lo da chuva naquele momento era irrelevante. As dúvidas não mais me amedrontavam como a muito vinham se impondo ao meu ego, esta sofrida parte do meu eu estava esfolada de anos atrás ferido por outros poucos medrosos a que me permiti qualquer lapso de sentimento bandido.
Enfim quando escolhi recomeçar por alguns outros conceitos adormecidos ou propositalmente largados esquecidos em qualquer canto obscuro do meu eu, tinha convicção de que todo o mundo havia mudado e acreditei como criança sem pestanejar que todas as palavras pronunciadas timidamente eram cabíveis aos sonhos verdadeiros de idealistas insanos, era fé cega! A timidez em sua face serena camuflava outro ego ferido que apenas se permitia as coisas mais fáceis mundanas, diferente de mim, eu toda a vida acreditei poder sempre um pouco mais além de meus limites. É de pureza tão íntima, mas também tão visível, tão carnal que pelas expressões faciais nitidamente se podia notar, aqueles olhos brilhando carismáticos juntamente com os lábios suaves de contorno exato estendidos de canto a canto me fizeram crer imaturamente em outro tipo de vida, tem gosto aparentemente orgulhoso o pronunciar, “eu me deixei levar, deixei ser dono de mim”.

“- Nem ao menos posso me envergonhar em dizer que poderia escolher facilmente ser pequeno, ser pouco, ser um inconseqüente eloqüente, tanto atirado quanto desleixado. Quando percebi, de sobra já havia menosprezado quase toda grandeza que habita mim, fiz isso de coração aberto, de olhos fechados, me fiz vassalo e ingênuo, teimoso e insistente, nunca fui tão pouco orgulhoso ou fogoso. Agora nem ao menos quero ser cauteloso quando grito que fiz o que fiz simplesmente porque escolhi habitar o mesmo mundo que outrem.” Até parece que algum dia eu vivi.


Em primeiro segundo pós escolha se esvairia de mim toda aquela angústia diária incessante, ao contrario da gradatividade de emoções ruins ou daquele peso nas costas, crescia em mim outros sentimentos com ênfase de graciosidade, dali adiante não haveria como retornar, como frear ou muito menos parar, era como um câncer me consumindo, eu estava sob as gotas, meu guarda chuva tinha esquecido em casa.
 Eu nunca aprendi a chorar pouco, a respirar pouco, a ser feliz pela metade e o amor enfim como o mais impiedoso me matou quase sempre, depois da primeira, segunda ou terceira sempre nos achamos mais intocados, impermeáveis, endurecidos, um infinito de nomeações que nos remetem a idéia de sermos fortes, mentimos a nos mesmos que é sempre menos que antes o que sentiremos adiante, não posso ser tolerante, muito menos simples, meus detalhes me formam como um quebra cabeças de partes infinitas, detalhes minúsculos que precisam de encaixes perfeitos.
Quando me abraçou firme, o frio se foi, eu tolo esperançoso rezei aos céus pra que aquilo fosse à continuidade dos nossos dias de orgulho, por um minuto ou vários que se perderam naquele esboço de sentimento acreditei que nossos sonhos voltaram a se encontrar, que cuidaríamos um do outro como em nossa velha canção comum ditava, estava seguro de que os esforços e todas as lagrimas não teriam sido em vão. Naquele lapso de credulidade o mundo parou perplexo diante de mim, eu me senti esplêndido sendo alcançado só por você, ele nos deu tempo suficiente para sentirmos o calor intimo retórico que acendia o físico, o cheiro eterno que dilacerava o espirito e o toque infinito que desrespeitava a pureza consciente de todo meu eu, todos eles distintos para que deixasse nitidamente claro a idéia de que ainda acordaríamos suados sozinhos em nossas camas mesmo estando em companhia de um ou outro sem nome, sem gosto, sem canção, com sensação de ter revivido dias menos nublados, menos desbotados, sem este amargo na boca de sonhos idealistas perdidos.
Fui embora sob a chuva, perdido sob a água fria e pesada que lavava meu corpo e beijava minha alma, meus pés estavam descompassados e eu decepcionado, meu espírito se isolara em um canto obscuro pra privar se do mundo insano, eu sai com um espaço vago incalculável em meio ao meu peito, achei que a morte chegara recente dado mãos com a absurda dor transparecida em pranto insano, alguém acabara de arrancar parte essencial de mim atirando-a em qualquer canto sem piedade se quer.    Eu não lhe culpo por não poder viver no mesmo mundo que eu, por não ter asas tão grandes quanto eram as minhas antes de apará-las pra estar com você, se eu fosse anjo igual quando bem me nomeava naqueles dias mais justos, eu teria deixado toda a minha eternidade de lado pra estar a mercê de um mundo complicado simplesmente atado a quem fosse dono de mim.


“Mas por estar logicamente vivo, aprecio a vaga lembrança de sonhos roubados enquanto o Nando diz ao fundo tudo que eu gostaria de ter cantado pra você, eu só lamento pelo tempo perdido, entenda minhas lagrimas derramadas como sendo apenas indícios de vida verdadeira, elas serão lembradas apenas como detalhes de histórias de sobre mim. Tenho pena dos brutos, pois nunca viveram de verdade, depois de muito sofrer ainda creio que anjos existam caminhando por ai.”

(Rafael Augusto Oliveira)