terça-feira, 18 de setembro de 2012

De todas as lamentações


      Vou movendo meus dedos em contornos inexplorados, é uma sensação boa, atar uma pele quente a outra, sentir o cheiro, ouvir os suspiros, sentir toda aquela força recíproca evidenciando que os corpos explodem em prazer.
      O habito, o vicio e necessidade lhe rasga a alma como quem lhe quisera ver morto, e seu corpo treme.
      Ainda estou perdido, e a percepção disso é bruta, aquele aroma me impregnando de ponta a ponta, me despertando sensações delicadas que dão indícios de atos passados, dando-me certezas que eu realmente não fazia questão de ter. Mesmo embalado naquele vaivém morto-vivo me deixo, perco-me nos lapsos de pensamentos que outrora deixara pra traz.
      Uma hora ou outra tuas mordidas ou lambidas me fazem aceitar que eu quero o que me dispõe, que basta somente aquele momento e pronto, você me promete a calmaria e eu lhe retribuo com essa tempestade negra. Talvez eu tenha que me molhar, sentir um pouco mais de frio, para apreciar de forma merecida seu afago.
      
      - NÃO! Essa atitude de estar sempre certo nem lhe pertence, isso é um detalhe de quem já sumiu para além dos meus olhos, e que me foge a lembrança por força de vontade minha. Eu tento não lembrar e às vezes até me esqueço.
Eu sei que suas palavras se mantiveram tão firmes quanto sua expressão fria fácil, era tudo que me oferecia naquele momento, trechos de diálogos sem nexo, frios e tristes para que se tornassem nostálgicos enfartos futuros escritos por mim.
Eu tenho degustado amargo o desfrute frouxo da língua de outros que se entrelaçam as pernas das histórias contadas sobre ele, sobre o nosso caso, meu e teu drama de teatro mágico mexicano.
Depois de tanto, temo o amanhecer e ainda não encontro uma paisagem firme que me dê à ideia de que estou lúcido, que nossas histórias são tão reais quanto aos mosaicos dos raios de sol me queimando o rosto fazendo secar a magoa.


      - Sim, elas secam e esvaíram. Sentimos-nos renovados.
Não tente seguir este mesmo caminho, não se pode viver a vida de amor, prazer ou ideais fragmentados, não se pode sentir pela metade, viver pela metade jamais será viver. Minha vontade de permanecer vivo, firme e feliz é do tamanho deste espaço vazio que vocês um dia habitaram e que vou preenchendo.
     
      - Eu que fui tanto, me pego pensando em quem agora sou (sem você).
Talvez seja só a saudade arrastando meu coração, meu coração não mente, ele soa exatamente como meu eu se sente quando penso em você.


“Pela paz faça mais do que espera receber.”

terça-feira, 3 de abril de 2012

Aquarela de NÓS dois


- Alegria cinza não tem graça.
- Bonito isso.
- Também gostei.
- De onde tirou?
- Acabei de pensar.
- De que adianta esses amores coloridos, se de fato eles estão apenas nos papeis?
- Deixar ao menos uma boa lembrança.
- Não sei viver de lembranças.http://static.ak.fbcdn.net/images/blank.gif
- Lembranças são pra serem lembradas, apenas. Vivemos o dia.
- Lembrar dói
- Quando sua imagem é triste. E se todas as imagens forem tristes, todas as lembranças vão doer.
– Então vivemos o dia lembrando sentindo dor? Sei lá.
- Até lembrar-se de algo bom, e darmos um sorrisinho de canto de boca.
- É bom lembrar coisas boas e acordar sem elas?
- Melhor do que jogar um lençol por cima de todos os móveis e julga-los fantasmas.
- Você é meu fantasma.
- Sou seu anjo, meu caro. Mas só enxerga meu brilho quem está de olhos abertos e de coração também aberto pra me receber.
- Eu te recebi e rezei firmemente pra você ficar, mas minhas orações de que valeram?
Você tem ido devagar, devagar...
a qualquer hora te perco de vista.
- Ou quem sabe os seus olhos apenas tem se fechado, e fechado. E mesmo que assim o for, acho que o sol sempre nasce de novo, não?
- E se a noite for longa, tão longa que nos envelheça, e da cabeça perca alguns ideais?
- Novos nascerão, e pra quem espera com alegria a noite nunca é longa.  Não há tempo que defina essa noite. E não há noite que resista á uma aurora, o nascer sutil e arrebatador do sol.
- Novos ideais?
- Sim, um novo conhecimento que até então não tinhamos ou não enxergávamos, uma nova perspectiva.
Não podemos julgar o dia pela noite, e sendo noite ainda podemos tentar alcançar as estrelas, ficar na ponta dos pés e estender nossos braços, e com a mão tentar tocá-las.
Mas, não precisa ter medo, a natureza é muito sábia. Respeita o tempo, e ainda assim, pode nos surpreender com um sol da meia-noite.
Ou podemos esta sobre a linha de maior clarão, em que as noites são apenas detalhes pra dias tão iluminados.
- E se eu estiver tomando medo de altura, do sol, da noite, das estrelas?
- Algumas reações são involuntárias, e cada vez mais vem soando necessárias?
Meu coração e cérebro parecem estar em conflito.
- Acho que isso é de você acreditar né. É coisa pra quem consegue manter sua fé
Mas, todos os caminhos nos levam ao aprendizado, não há outra forma.
A diferença é O QUE aprendemos Então, só precisamos estar atentos a isso.

- "Se eu tivesse a força que você pensa que eu tenho”.

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

AGRIDOCE



- Sabe, eu nunca tive muita paciência.

Hoje ainda é segunda e me pergunto por que a sexta tarda tanto a chegar, me precipito pensando que dormir mais cedo ou trabalhar mais vai encurtar os dias e me fazer estar mais próximo daquele cheiro de bom dia, daquele afago no cabelo de boa noite, daquele pensamento perdido entre as paredes. Ouvir você ao telefone desenrolando histórias do nosso dia-a-dia nem se compara quando lhe pego levantando a sobrancelha caprichando naquele olhar de interesse infantil em nossos diálogos vampirescos maduros.

- Sabe aquele gosto de chocolate com eucalipto?

Agora faz lembrar-me das noites meio sacanas, mas que ainda assim são tão boas quanto um bom primeiro encontro, aquele fogo que pega rápido e se adentra em lençóis suados e grunhidos largos, pausados e declinados a uma reação imediata de êxtase, aquele lapso de perda de memória e tempo, tempo descompassado e que passa de imediato, e quando volta ao momento se pega pensando que aqueles minutos na verdade foram horas e horas, e então nos tornamos campeões de um vaga competição de entretenimento duradouro.
Àquelas horas perdidas, a meia luz de um sol que tende a nascer alaranjado descobrindo entre as frestas da janela a imagem nua de quem ainda prolonga um relato abobado de histórias fictícias, daí se perde as falas trocando carícias depois da malícia antes que o sono venha nos buscar. Pensei por vezes naquele retrato meio obscuro, ficaria bem aquela imagem, ficaria guardado em pouco segredo sob aquele livro pesado de poemas que comprei depois do café que tomei pensando naquela imagem de olhares trocados e no que dizer em um próximo encontro. Mais meu telefone parou de tocar.
Compenso a vontade dessa imagem por momento com outras fotografias, esses estáticos dias de lembranças, dias em que capturo o tempo exato de quando estamos em sintoma de felicidade simples, basta um sorvete, uma pracinha, cachaça e limão, um som ligado, roupa no chão. Da pra lembrar o vento que esvoaça teu cabelo, enquanto chego bem próximo a você deixando que mais tarde ao admirar aquele retrato estático quase posso sentir mentalmente seu perfume daquele dia, ai em minha mente o teu sorriso tem som, tua boca tem gosto, o dia fica mais em vivo.

-Sabe o que me fez apaixonar?

Foi tímido, suave, meio descompassado, mas ainda assim era cheio de sentido ouvir você cantando Los Hermanos enquanto respirava em minha nuca aquela melodia cheia de bordões, ai eu pensei, “é bem aqui que quero estar”, esse pensamento tinha gosto de chocolate meio amargo, daquele potinho que não deixei sobra. Não existe meio termo em gostar, eu não gostei “disso” pelas metades, sou decidido quando lhe digo que pra mim tanto faz, desde que você esteja por aqui, não importa o sabor do sorvete, o filme em cartaz, se é dia ou noite, se é agora ou mais tarde, o que realmente me vale é poder apertar sua mão e sentir aquela força recíproca que serve pra evidenciar que ambos estamos realmente ali, que o mundo lá fora é só mais um detalhe a parte em nosso mundo particular.
Mas com o tempo vamos desleixando em alguns detalhes, as ligações vão se resumindo em pequenos diálogos noturnos dessa fatiga cotidiana, não se pode evitar o comodismo, mas bem que falta muito a tentar, tento deixar sem lógica as pequenas mutações que vêm ocorrendo a cada momento em que nos debatemos sujeitados a peculiar personalidade de cada um, algumas coisas ainda passaram por complexo demais para nosso intelecto tomar real dimensão de tudo, é ai que usamos a parte sentimental, deixamos as sensações fluírem sem precisar de razão ou porque delas estarem presentes ali. Venho freando-me quanto aos questionamentos constantes que lhe impunha, pois não quero sepultar o que ainda nem tive tempo de gerar e ver crescer o que poderia durar muito tempo, não tenha medo dessas dimensões por vocábulos, muito tempo não significa para sempre, mas mesmo assim ainda que no final sinta amargo que o que se estabeleceu foi pouco, haja mais tempo para desfrutar do que for possível, sem porém, sem medidas, apenas a vivência sem estágios pré estipulados.

- Me faz um favor?

Acredite mais nas possibilidades, creia no que ainda não pode ver, mudanças são cabíveis a qualquer um, basta força de vontade, você pode me enviar uns quantos cigarros para me distrair, mas a cada trago o pulmão se arfa e o ar queima pesado pelas narinas, as vezes trago por odiar tua maneira de existir, logo em seguida te amo por não ter deixado de vir e me dado sorrisos fartos.
Mas se for para ser assim, então apenas passe por mim, mas passe como um arrepio medonho, me faça contorcer, suspirar alto, faça minhas pernas ficarem tremulas e minha cabeça revirada, deixe meu coração em ataque cardíaco antes de partir, e quando enfim você se for eu terei marcas em meu corpo, algo que eu possa ver por mais algum tempo, passe por mim sem medo de ficar por um tempo se sentir-se à-vontade, lembre de deixar recordos, deixe algumas fotos sobre a mesa para que eu possa chorar de saudades, deixe as lembranças impregnadas por onde passamos juntos, mas quando for embora deixe meu coração, você não precisara mais dele, deixe junto ali um pouco mais de tempo, tempo suficiente para que eu possa ficar bem.

“Nada vai me desanimar.”

Eu sempre vou tentar um pouco mais sobre você, só os covardes não vão além. Exceto você, você não faz tipo covarde, mas também não o vejo indo além. Ainda estou esperando minha consciência apagar as marcas de sua boca da minha alma, apreendendo a lidar fácil com tudo isso como você aparenta ter nascido sabendo, não é justo que você vá e que algo seu não fique para traz fazendo com que você sinta a perda de maneira significativa.
Espero que você não me ache egoísta, que me perdoe por nestes momentos sentir desprezo por você, mas é o que tenho capacitado a me proteger, então por vários segundos enquanto aperto os olhos ardido eu lhe maldigo, “idiota insensível”.
Queria lhe ouvir chorar em meio a soluços, queria ver seus olhos avermelhados e brilhantes, sentir teu coração partido, tocar tua expressão triste enquanto lhe fito com minha face fria, eu choraria com você se me escancarasse seus medos surreais, queria juntar teus cacos e ensinar sobre tempestades que lavam a alma, e segurar tua mão mais forte enquanto escutamos o sussurro da calmaria nos avisando não haveria epitáfio neste pequeno capítulo.
Eu me sinto fatigado e os pensamentos perdidos servem de alimento para a alma vazia, aquele sol do amanhecer não transpassa estas lacunas, não me iluminam os olhos, mais um ou duas ou quem sabe quantas pragas lhe rogo afim de que seu arrependimento seja contexto de um próximo parágrafo.
Eu poderia esperar por você, mas minha paciência não condiz tanto com meu signo. E do mais, o que mudaria? Eu apenas me sentiria mais culpado por não sei o que, culpado e idiota, enquanto talvez você estivesse sorrindo por ai aos teus amigos deixando esvair de sua mente qualquer pensamento ligado a mim, me esquecendo aos poucos.  
Veja pequeno, estou agora me arrumando para sair, alguém me pediu um abraço, eu estava sem animo e ainda não havia dado tempo para esse gesto, não pude entregá-lo por motivo qualquer, de certa forma estou me sentindo mais feliz que ontem por estar quebrando algumas regras que se estabelecem naturalmente, sou eu quem sempre faz questão de passar por todos os estágios de um pós-parto, mas hoje eu pretendo sair e ser a pessoa que você consegue enxergar além deste meu eu.
Estou lhe deixando por aqui, repousando em várias faces estáticas destas lembranças felizes, sob a forma de retratos que tirei e guardei no fundo da minha gaveta.
Não espere dias mais claros e pensamentos menos turvos, não espere pela tranqüilidade infinita, nem pela lógica do mundo, viva. Estes nossos pensamentos futuros podem nunca vir a acontecer.

               

“Obrigado
Por eu ter te amado
Com a fidelidade de um bicho amestrado
Pelas vezes que eu chorei sem vontade
Pra te impressionar, causar piedade.”


Não sou feito de acaso.


domingo, 26 de fevereiro de 2012

Abrigo de papel


Sempre que aproximar-me de ti, e estender-lhe os braços para um abraço pesado de saudade, farei sabendo que teu calor e cheiro nostálgico já são reconhecidos pelo meu sistema sentimental a léguas de distância, é engraçado como podia senti-lo mesmo quando você não esta aqui fisicamente, teus artifícios naturais me remetem a duas linhas distintas de sensações controversas. E em primeiro momento, o tempo vai desacelerar E nada mais existirá se não aquele ato único, naquele instante imediato irei te amar como ao início daquele nosso primeiro café.

- Com açúcar e muito afeto, por favor!?
Traga quente se possível, o deixe esfriar gradativo como nossos planos. Ao final não sei quanta açúcar realmente ingeri, ou quanto vagarosamente esfriou nosso café, não sei quando a cama começou a permanecer arrumada por mais tempo, acho que foi quando comecei a fumar e a beber mais. Mas por fim o veio o fim, e agora me pego imaginando se você ainda é a mesma pessoa, se teus sapatos são os mesmos, se o cabelo esta arrumado, com quem você esta agora, se não com qualquer um que não seja eu?

 Sei que por um infinito de tempo incalculável vou sentir esse amor destruidor me arranhando das entranhas até todas minhas extremidades trêmulas, eu fico meio tanto quando penso nesse lance de começo de “tudo” a caráter de romance cinematográfico, ninguém nunca disse estar apaixonado por mim depois de me dizer o quanto meu tipo de amor era diferente do seu, acreditei que você realmente nunca se declinaria a mim de tal modo, sei que provavelmente fiquei arco-íris pela freqüência que devo ter mudado de cor quando da tua boca soava com mais exatidão a peculiaridade de todo aquele “enrola-enrola”. Mas isso tudo se perde em meados de qualquer outra coisa que me tire atenção daquele abraço terno, no momento seguinte a próxima cena seria quase tal um filme incolor, nada de arco-íris, ou açúcar, muito menos afeto, minha raiva por você estar tão perto e tão longe é maior que meu amor de momento, esse teu receio de me ferir com suas palavras mal colocadas, me destrói de fora pra dentro, minha face se fecha, meus olhos se turvam, e meus sorrisos estão acabam se escondendo atrás de sorrisos de outras pessoas. Nunca irei entender porque me pediu pra partir, mas meu respeito é maior que orgulho, de certa forma eu fui.

- Já reparou nessas lágrimas?

Não, não entenda que estou lamentando esse vazio que fica enquanto olho declinado da janela, as noites sempre são mais tristes do que de comum desde então, só estou desesperado com essa saudade que tarda a passar, se pelo menos tivesse ido e levado contigo não só a parte boa, mas também as partes ruins, te veria agora como meu herói favorito, infelizmente heróis não existem, real mesmo é algo que se chama determinação, realismo, estou sendo rígido comigo mesmo quando me obrigo a prometer ou a encenar pra mim com tanta veridicidade e por tantas vezes que acabarei não tento mais que rezar pedindo que esse amor morra em mim, minhas mentiras serão convicções, mentiras sinceras talvez realmente me interessam. Às vezes pareço ser outra pessoa, mas creio ser o teu reflexo ainda em mim, eu sei quem sou, por isso ainda tantas dúvidas.

- Amor morre?

Olha esse relógio em um tiquetaquear infinito, parece que o tempo insiste em me manter acordado, meus olhos estão estatelados, já se vão umas quantas noites que insisto em pensar sobre um retorno de lugar nenhum, essa miragem insana dedicada a me fazer sentir com estomago embrulhado, eu sempre prefiro as borboletas, esses besouros na barriga me fazem querer vomitar. Aquele relógio velho parece deixar todo um mundo de lado, os conflitos vão se esvaecendo a cada baforada, meus planos futuros estão a brincar em meus dedos. Você soube durante todo esse tempo que amamos de formas diferentes e nunca me disse.

-E eu?
-Ainda estou tentando aprender sobre.
- Será que a gente sentiu a mesma coisa? Estamos presos a pontos de vista diferentes.

Eu sei que poderia te encontrar agora, mas me dedico simplesmente a pensar onde você esta, talvez na cama de alguém, talvez preso em uma fé cega de que estará em segurança nos braços de qualquer que seja. Mudar agora pra mim será indiferente, mas talvez tua parte sã ainda caiba pra felicidade de um próximo amor de estação.
Aquieta-te por ai, parece que é mais distante do que eu pensava seu novo lugar, deve ser saudade, a física controversa impõe que esses dois corpos de pólos opostos, mas tão semelhantes se mantenham distantes.
                Você parece um câncer ligeiro, sem cura, eu posso sentir lhe corrompendo meu íntimo, é cruel seu jeito manso de admirar meus lábios enquanto converso, ou de tocar me indiferentemente delicado enquanto me seguro para não arrancar lhe um tasco de pele em uma mordida ou outra, penso até que por momentos sua mente planejou um beijo súbito, você deveria ter aprendido a frear antes de começar dirigir-se a mim, não sou tão sábio ou tão paciente para esperar boa vida desde então, me exalto, me estrago, me deixo ir pela maré de infinitos sentimentos que ainda ontem repudia ver em alguém, mas quando se têm câncer você passa há admirar seus dias com mais cautela e inconseqüentemente quer viver cada segundo sendo aproveitador extremo de todos os detalhes que não lhe instigava viver até que alguém venha abrir-lhe os olhos.
                Descanse em sossego, este caminho é pedregoso demais para arriscar-me pisar tantas vezes, não que eu seja medroso, mas prefiro caminhar sobre campos mais aveludados, você deve saber o quanto mais preciso disso, o quanto mais sensível sou, acho que sempre se lembrará de minhas palavras e às vezes até sentirá falta de ouvir, leia cartas antigas e se inspire a aventurar, ouça canções que gostaria sentir, e tente chorar de emoção, dedique-se a viver mais e mais.
                Vou continuar escrevendo sempre que esse sentimento inquietar meu ser. Pode demorar dias, meses ou até anos para que eu aprenda a caminhar sem olhar pra trás, pode demorar que eu aprenda a andar mais devagar, ou pode ser que eu morra tentando viver o que alguns nem mesmo terão a dádiva de conhecer.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Escreve-se assim, as velhas novas despedidas,



Logo cedo vêm o tempo manso que aquieta o espírito fatigado efêmero, despedidas em domingos chuvosos não foram feitas para serem momentos felizes, despedidas em geral não carregam consigo grandes sensações gentis, mas esta em si, a parte de todas levou quase uma eternidade pra acabar. Foi aquela chuva triste do atraso de final de semana, melancólica de dias acinzentados caindo lentamente que cobriu uma vez mais por puro clichê aquelas insistentes e poucas gotas salgadas escorridas que tendiam a sair, em dias assim qualquer incentivo de melhoria parece ser completamente desprezível, qualquer pensamento parece vago, não a muito sentido nos passos, qualquer sorriso parece triste.
- Não me julgue por mais esses outros tantos cigarros, estou a tentar ficar calmo!
Como de pouco costume a pouco que tínhamos afim, percebe-se fácil que meu nervosismo em excesso me descontrola, minha dramatização inconseqüente não lhe agrada, minha mania de exatidão e detalhamento de tudo que foi dito para que não haja lacunas serve-me para aquietar o espírito, as dúvidas sempre me corroem posteriormente, não quero vacilar e me perder pensando que ainda caberia uma palavra ou outra em nosso monologo sobre “pontos e vírgulas”, mas se eu não fosse exatamente “ASSIM” talvez não lhe agradasse quem eu pudera ser.
Se não fosse por agora quando é que ouviríamos nossas músicas francesas temáticas com tanta apatia por toda essa literatura e melodia frustrante, com sensação de que elas nos remetem a safadezas de fim de noite? Se não fosse nosso enredo dramático criado pelo meu psicológico instantâneo que se diz centrado e maduro ou pelo seu descompasso emocional que me irrita constantemente, mas que me faz querer te apertar, te sufocar em um abraço apertado pra que você se aquietasse aqui comigo, talvez nós estivéssemos fadados a tardes em banquinhos de praças como quem dera um casal de décadas anteriores, aborridos e sem ânimo, desses que passavam uma vida toda para vivenciar os benefícios em apenas um dia ou outro para quem sabe sentirem se realmente vivos, sei que nós não seriamos tão bons amantes de noites de filmes em preto e branco com pipoca em uma salinha só nossa, prefiro ainda sentir aquele aroma de creme dental e vodca enquanto desleixamos com as roupas espalhadas pelo chão. Boa parte do que escolhemos por trilha nem mais fariam sentido, eu tenho pressa de estar livre de tal sensação que me aperta o meio do peito e que tende a fazer desejar não ser mais quem eu sou, vou criando asco a quaisquer vestígios de posteriores sentimentos duvidosos, ou de pessoas abstratas a mim, mas sei por vivência que é um desprazer passageiro, que indisposto estou a repensar, a errar, arrepender, me perder, encontrar, viver e viver por incontáveis e absurdas vezes esses malditos enredos prematuros escritos em linhas tortas.
Pense que de todos os meus defeitos o que mataria a ambos mais devagar seria meu cheiro de perfume e nicotina.
Mais um ou dois cigarros...
- Desculpa, ainda estou nervoso.
Meu defeito, meu prazer, se vê em misto de bom gosto vicioso. Não que seja a melhor lembrança de mim, é apenas um detalhe a parte do que eu sei ser, talvez quando abraçar alguém que por habito seja igual a mim, por lapso o aroma de nicotina, perfume e suor de outrem lhe trará a mente a imagem de dois corpos nus em transpiração ao vaivém de qualquer som alternativo de gosto comum, atracados por contrações práticas e involuntárias de prazer, ou ainda pelo lado sentimental, um simples abraço cômodo que deixa passar despercebido o nosso segredo aos olhos de qualquer outra pessoa boba, a não ser pela nossa troca de carinho meado a que fato mais nos julgariam? Nós sim estamos nos julgando e nos condenando a não sei o que exatamente, mas sei que estamos vacilando em algo. Se pós tudo não sentir falta alguma de qualquer sensação de presença minha, do toque, do beijo, do olhar perdido que encontra quando abre os olhos, das brincadeiras infantis, das descobertas íntimas, conversas desconexas ou descompassadas mal interpretadas, mas ainda assim bons diálogos, ou ainda da companhia pratica para virada de goles rápidos de qualquer dose de bebida quente para que sejamos menos enfadados da vida. Sim! Até mesmo nossos detalhes não tão exemplares talvez nos façam falta. Enganamos-nos quando desejamos vivenciar nossos sonhos em todos os mínimos detalhes quando na verdade somente alguns realmente têm a glória de vivenciá-los com exatidão, outros tantos incontáveis e lamentáveis seres apenas lhe fazem caso quando estão dormindo, vivência frágil e enganosa, mas ainda sim vivência sonhadora e saborosa.
Se você em sua forma de pessoa “erradinha e perfeitinha” não sentir falta de detalhe algum faço votos para que um dia tudo mude, e te elevo então a um patamar superior e lhe nomeio com desdém “ser bruto”, pode desfazer-se de tudo que te faz refletir ou se contrair de raiva por ainda pensar sobre isso, mas não apague de você o que te dediquei por breve tempo algo que denominam “a melhor parte de mim”.
Pense no tempo que esta sendo dedicado ao que escrevo só pra tentar ser menos ilógico quando lhe peço alguma compreensão ou resposta para todas as perguntas que faço, eu não procuro perfeição, sou pisciano, mas ainda assim realista demais para esperar que contos de fadas surjam cavalgando em minha porta, isso é a idéia infantil de relação, se existe algo em que concordamos por completo é sobre imperfeições, NINGUÉM vai ser o brototipo
Acho que eu devo confessar, eu ficava te esperando dormir primeiro que eu propositalmente, e por várias vezes enquanto lhe admirava dormir pesado percorria com os dedos suavemente, quase não lhe tocando, lentamente para não lhe acordar teu queixo, lábios, nariz e sobrancelha, e sempre me pegava pensando se eu realmente deveria estar ali, se não era melhor levantar sorrateiro e partir para outra vida que deixei lá atrás a algum tempo, e pela manhã, pelo primeiro beijo de hálito de bom dia eu desejava continuar acordando com tua imagem de anjo bastardo por vários outros dias seguintes.
                Tem algo queimando aqui dentro, é um enredosinho de romance semi cozido, com temperos peculiares, não tenha medo de aumentar a temperatura desse cozimento, errar a dosagem dos ingredientes é normal, perca o receio de misturar ou decorar um pouco mais de experimentar novas formas, não existe fórmula exata para este tipo de receita, se ficar sem sal, convenhamos que degustaremos muitos outros novos gostos, se o fogo acabar por falta de gás ainda podemos usar outros materiais combustíveis, mas não deixemos de provar-nos a toda hora para que possamos elaborar nossa própria receita de convivência sentimental.
Foi você quem me tirou de um desprazer cotidiano, foi você quem me fez sorrir, não te culpo por esse vácuo que estou sentindo hoje, ou pelas lágrimas durante o banho, essa saudadezinha que vai crescendo desde quando lhe dei as costas de noitinha vêm mansa e seria me dizer que eu deveria tentar lhe dizer qualquer outras tantas coisas. 
Mas por hora lhe deixo este ponto final camuflado por esta virgula,

sábado, 22 de outubro de 2011

Nossos sonhos favoritos.


Quando me perco de mim,


“Hoje acordei com fome de melodia, pra tocar a vida adiante necessito ser ritmado por alguma boa canção, preciso de alguém pra me conduzir ou para me acompanhar.
Uma parte de mim ontem foi embora durante a chuva pesada e fria, se vocês pudessem ouvir através do intimo silêncio frio daquela noite triste, adentro das gotas fartas e da musicalidade descompassada da chuva o Renato Russo gritava ao fundo uma das mais belas canções de despedida enquanto o Cazuza manso me falava sobre desistência.
 Estou de ombros caídos arfados, eu não aprendi a disfarçar tristeza, nem ao menos quero tentar ser feliz de imediato, a chuva ontem beijou minha alma, lavou meu corpo, mas não levou a dor embora, minhas lagrimas estão misturadas a ela em algum canto e em um dia ou outro o céu ainda vai chorar por mim.
Não quero provar a ninguém que estou bem ou que sou demasiado forte, não pretendo premeditar ou arquitetar uma melhora repentina, sacudir a poeira ou apontar o queixo imponente ao horizonte, para demonstrar a quem me rodeia que sou mais bruto do que pensam, toda essa melhoria vêm vindo mansa, vêm gradativamente lutando contra o lado ruim de estar aqui estagnado por momento, o pós guerra, a calmaria, o repouso, tarda a estabilizar e às vezes falha, já escutei sobre casos que jamais passaram pra um próximo estágio de superação, a mansidão vêm lentamente formigando minhas entranhas e eu vou me rendendo ao comodismo da superação, às vezes o tempo se faz muito tempo, talvez eu seja assim pra sempre, talvez eu seja um fanático contador de enredos bonitos com tristes fins.”

Dia 17/outubro/2011

Até então chovia manso, logo depois o céu desabou firme.

Quando ainda havia vestígios de inocência e credibilidade em um mundo que parecia mais manso e não tão complexo, julguei como tolo poder voltar a vivenciar sonhos que a muito não mais me faziam caso, escolhi caminhar por certos caminhos que a muito haviam deixado de me calejar os pés e atordoar minha alma, naqueles outros tempos eu desfrutava de outra vida, regada de dias insanos, noites boêmias, aventuras sexuais e casuais, dias que pareciam ser cheios de glória.
Quando caí, era como se tudo se perdesse, o passado cheio de insegurança, desprezo e ignorância foi se desmanchando como papel na chuva, fragmentado em pedacinhos minúsculos que não se poderia recompor, tirá-lo da chuva naquele momento era irrelevante. As dúvidas não mais me amedrontavam como a muito vinham se impondo ao meu ego, esta sofrida parte do meu eu estava esfolada de anos atrás ferido por outros poucos medrosos a que me permiti qualquer lapso de sentimento bandido.
Enfim quando escolhi recomeçar por alguns outros conceitos adormecidos ou propositalmente largados esquecidos em qualquer canto obscuro do meu eu, tinha convicção de que todo o mundo havia mudado e acreditei como criança sem pestanejar que todas as palavras pronunciadas timidamente eram cabíveis aos sonhos verdadeiros de idealistas insanos, era fé cega! A timidez em sua face serena camuflava outro ego ferido que apenas se permitia as coisas mais fáceis mundanas, diferente de mim, eu toda a vida acreditei poder sempre um pouco mais além de meus limites. É de pureza tão íntima, mas também tão visível, tão carnal que pelas expressões faciais nitidamente se podia notar, aqueles olhos brilhando carismáticos juntamente com os lábios suaves de contorno exato estendidos de canto a canto me fizeram crer imaturamente em outro tipo de vida, tem gosto aparentemente orgulhoso o pronunciar, “eu me deixei levar, deixei ser dono de mim”.

“- Nem ao menos posso me envergonhar em dizer que poderia escolher facilmente ser pequeno, ser pouco, ser um inconseqüente eloqüente, tanto atirado quanto desleixado. Quando percebi, de sobra já havia menosprezado quase toda grandeza que habita mim, fiz isso de coração aberto, de olhos fechados, me fiz vassalo e ingênuo, teimoso e insistente, nunca fui tão pouco orgulhoso ou fogoso. Agora nem ao menos quero ser cauteloso quando grito que fiz o que fiz simplesmente porque escolhi habitar o mesmo mundo que outrem.” Até parece que algum dia eu vivi.


Em primeiro segundo pós escolha se esvairia de mim toda aquela angústia diária incessante, ao contrario da gradatividade de emoções ruins ou daquele peso nas costas, crescia em mim outros sentimentos com ênfase de graciosidade, dali adiante não haveria como retornar, como frear ou muito menos parar, era como um câncer me consumindo, eu estava sob as gotas, meu guarda chuva tinha esquecido em casa.
 Eu nunca aprendi a chorar pouco, a respirar pouco, a ser feliz pela metade e o amor enfim como o mais impiedoso me matou quase sempre, depois da primeira, segunda ou terceira sempre nos achamos mais intocados, impermeáveis, endurecidos, um infinito de nomeações que nos remetem a idéia de sermos fortes, mentimos a nos mesmos que é sempre menos que antes o que sentiremos adiante, não posso ser tolerante, muito menos simples, meus detalhes me formam como um quebra cabeças de partes infinitas, detalhes minúsculos que precisam de encaixes perfeitos.
Quando me abraçou firme, o frio se foi, eu tolo esperançoso rezei aos céus pra que aquilo fosse à continuidade dos nossos dias de orgulho, por um minuto ou vários que se perderam naquele esboço de sentimento acreditei que nossos sonhos voltaram a se encontrar, que cuidaríamos um do outro como em nossa velha canção comum ditava, estava seguro de que os esforços e todas as lagrimas não teriam sido em vão. Naquele lapso de credulidade o mundo parou perplexo diante de mim, eu me senti esplêndido sendo alcançado só por você, ele nos deu tempo suficiente para sentirmos o calor intimo retórico que acendia o físico, o cheiro eterno que dilacerava o espirito e o toque infinito que desrespeitava a pureza consciente de todo meu eu, todos eles distintos para que deixasse nitidamente claro a idéia de que ainda acordaríamos suados sozinhos em nossas camas mesmo estando em companhia de um ou outro sem nome, sem gosto, sem canção, com sensação de ter revivido dias menos nublados, menos desbotados, sem este amargo na boca de sonhos idealistas perdidos.
Fui embora sob a chuva, perdido sob a água fria e pesada que lavava meu corpo e beijava minha alma, meus pés estavam descompassados e eu decepcionado, meu espírito se isolara em um canto obscuro pra privar se do mundo insano, eu sai com um espaço vago incalculável em meio ao meu peito, achei que a morte chegara recente dado mãos com a absurda dor transparecida em pranto insano, alguém acabara de arrancar parte essencial de mim atirando-a em qualquer canto sem piedade se quer.    Eu não lhe culpo por não poder viver no mesmo mundo que eu, por não ter asas tão grandes quanto eram as minhas antes de apará-las pra estar com você, se eu fosse anjo igual quando bem me nomeava naqueles dias mais justos, eu teria deixado toda a minha eternidade de lado pra estar a mercê de um mundo complicado simplesmente atado a quem fosse dono de mim.


“Mas por estar logicamente vivo, aprecio a vaga lembrança de sonhos roubados enquanto o Nando diz ao fundo tudo que eu gostaria de ter cantado pra você, eu só lamento pelo tempo perdido, entenda minhas lagrimas derramadas como sendo apenas indícios de vida verdadeira, elas serão lembradas apenas como detalhes de histórias de sobre mim. Tenho pena dos brutos, pois nunca viveram de verdade, depois de muito sofrer ainda creio que anjos existam caminhando por ai.”

(Rafael Augusto Oliveira)

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Sou eu quem se perdeu.



Eu sei que você dormiu abraçada aquela coberta que ainda guarda o perfume incomum e que ao fechar os teus olhos cansados admirou a imagem de dois corpos que viviam o deslumbre de tempos que pareciam gloriosos e eternos, esses dias eram bem mais cheios de cor e calor, comparado a estes dispostos hoje frios, desbotados e temperamentais, perderam se ali duas almas dispostas ao infinito.

- Agüente firme mais um pouco, ainda é cedo pra chorar.

 Poderia ser uma noite quente em que esta companhia muda não lhe trouxesse tanto conforto quanto outra hora lhe fizera ao aquecer os pensamentos fartos, deixando-a resguardando pelo dia seguinte quando a insônia ansiosa lhe fazia desejar que a noite fosse curta e que o dia seguinte ao lado de seu “amor” fosse o mais longo possível, eu sei que, contudo ainda assim, se entrelaçaria a ela buscando qualquer vestígio de quem já se foi há algum tempo, mesmo que aquilo ao seu raciocínio orgulhoso lhe atirasse a falta de orgulho, o perfume brando ainda lhe faria estremecer e chorar pedindo ao vago quarto que vocês voltassem a se unir.

- Respire fundo, e percebera que este aroma te levará as memórias que talvez estivessem perdidas.

Eu sei que parecem anos, mas foi só há algumas horas apenas que ela lhe deixou em pranto largada de forma qualquer, cabisbaixa a mercê de qualquer lapso insano que lhe parecia lógico e fácil naquele momento. Comigo também foi assim, eu queria saídas fáceis e até mesquinhas, nada corajoso diga se de passagem, mas na medida em que podemos ficar bem, vem surgindo sorrateiros sentimentos e fagulhas de imagens de dias mais alegres que estes, e é nesta hora que encontramos o que nomeamos como “a dor do vazio”, desde que chegou ela vêm se impondo a mim mostrando ser superior a qualquer outra sensação existente aqui, não se podia mais sorrir, se alegrar, ter prazer ou até mesmo chorar sem que ela preenchesse o incalculável espaço vago em mim, o vazio se tornando dor, e a dor sendo conseqüência daquele vazio crônico.
Se lhe pedem explicação do que sentes você elabora qualquer diálogo fadigado de filme mexicano dublado, ou de um drama trágico francês e diz mentindo sem chance de credibilidade pelo espectador adiante que esta adoentada, fadigada do trabalho, que tem tido insônia, que lhe falta um pouco de apetite, que o mau humor ou a alta taxa de sensibilidade emocional é causado por uma TPM que já vem fazendo um ciclo vicioso nessas últimas três semanas, enquanto na verdade a garganta arde apertada e a boca amarga deixa sem graça teu prato favorito ao paladar, o peito queima acelerado te fazendo ficar acordada a lucidez de pensamentos bons que se tornam ruins e confusos, teu corpo parece soluçar as dores de cada batimento daquele coração dolorido, sua mente esta tão cansada que você só se concentra em achar razões quaisquer para dar lógica a toda aquela cena de fim, maldito desamor que nos vai deixando sem razão.

- Desate o último botão da camisa e respire devagar, não deixe que seus olhos lacrimejados molhem teu rosto e estraguem sua maquiagem pesada, ajeite teu cabelo e erga o queixo rumo ao céu, se quiser pode me abraçar.

Enfim, seu corpo agora não reage mais tão lúcido ou tão voraz quanto antes, é frustrante eu sei. Não se pode mais controlar tua mente que submerge em um mar emocional desgastante, desconhecido, nosso lado sempre parecerá mais desfavorável ou desconfortável que o do outro, e por fim ainda somos egoístas e orgulhosos, mas é porque nós que quando de corpos viris e almas deslavadas diríamos em outro dia que só se encontra assim quem quer, agora pagamos a língua como bestas inocentes, e dedicamos nossos dias a lamentar injuriada a perda de um membro recente, sim, é como se tivessem me arrancado um braço, ou uma perna, ou qualquer parte que faria grande falta em mim.

- Jamais vacilaríamos ou seriamos desleixados como outros, não existiria um coração a mercê ou jamais seriamos tapete para alguém, este um dia foi o nosso mal.

Em outras palavras ousamos ser quem quiséssemos ser, sem pestanejar a reação decadente de alguém, é apenas desdém por algo que não encontramos ainda, que nem ao menos sabemos o que procurávamos, quando não se conhece não se deseja e se não deseja não lhe faz falta. Apenas não tínhamos noção exata das proporções que tais sentimentos nos levariam, vivíamos pelo dia pós outro, e agora mendigamos milésimos de segundos que nos levariam a uma inconsciente realidade não tão boa, nada parecida com o que realmente sonhamos.

- O problema é experimentar!

            A quem se sujeitasse a nossa língua ou ao nosso vaivém de quadris que não esperasse imediata aspiração ao mundo lógico de nossos sentimentos, afinal não somos tão coerentes como a maioria aparenta ser, sendo assim talvez não existisse uma noite pós outra, ou uma troca de telefonemas ou cartas de amor demonstrando a fragilidade do nosso ser a qualquer um que premeditasse atar suas mãos as nossas e que não mais nos permitisse idealizar a liberdade solitária que queríamos, eu sei bem que ao final seriamos taxados de desprezíveis, frios, assentimentais, quando na verdade somos escarnados gêmeos piscianos de incalculável sensibilidade, sonhadores sem limites. Nas horas de apelo, quando o ego está ferido e o corpo desanimado, nossa mente sem perspectiva nos leva a desejar qualquer sensação semelhante do que vivenciamos. Agora que nos encontramos distante de sermos frias frígidas almas desbotadas lamentamos o desdém de quem nos mostrou o amor e em seguida nos fez querer “desamar”, e por passar a ser crente em qualquer coisa que nos tirasse daquela queda livre em uma fossa obscura começamos a recorrer a qualquer ajuda divina ou até mesmo a uma cartomante daquelas de esquina, que nos fizesse agarrar a idéia de que ao final tudo seria mais uma história de relacionamentos duradouros, que ali não seria um fim aplicável.

- Pode acender um cigarro favorito em comum, eu também conheço sua saudade.

Quando estiver sozinha olhe para o nada e bem diga sobre os bons dias passados quando ainda éramos quem éramos cabíveis de vários pseudos amores simultâneos, esses dias me dão saudade, eles eram tão mais lúcidos que estes, mas não despreze esses dias atuais, em algum outro momento futuro iremos rir de nossas prematuras perdas. Se lhe faz bem pragueje a quem foi embora que sofra ao abandono de outro alguém, de forma cruel e egoísta seja sincera mesmo que enraiveça você ter a certeza de que amará este alguém por um longo tempo indeterminado.
Você ainda sofrerá tremeliques, e perderá a compostura sempre que simplesmente lhe pronunciarem este nome que repetidamente martela em sua cabeça e lhe fere a alma. Depois de longos desgastantes dias, em uma hora ou outra acordará menos mal, vai conseguir rejeitar alguns telefonemas, jogar fora algumas lembranças, ou até mesmo sentir raiva para favorecer o desapego, um dia o cigarro incomum será apenas mais um cigarro, e seus lapsos de tendência suicida serão projetados a uma vaga lembrança de um passado distante e incoerente, talvez nesta hora ao pensar nisso você esteja em uma cama quente e macia, abraçada simetricamente confortável pelos braços de um novo alguém, sentirás um novo tipo de paixão, algo que te esquente a alma e te supri metade deste vazio, por um tempo vai bastar, este novo amor será seu refúgio, sua fortaleza e nele descansará até que esteja pronta para viver outro mesmo amor, mas se vacilar e se perder em pensamentos antigos ainda se pegará chorando por alguém que a face já nem mais lhe é tão nítida, sentirá saudades de alguém que deixou de conhecer, alguém que talvez nunca existiu, estará diante do teu eu vazio.

- Não chore! São apenas cicatrizes.


“Se deixares de acreditar no amor, ai sim lhe chamarei de vazio covarde,
deixe o desamor para os ignorantes desalmados.”



Para minha amiga chorona pisciana.


(Rafael Augusto)