sexta-feira, 15 de julho de 2011

O avesso de mim.



 Quando escrevo é porque sinto vontade de lhe falar verbalmente.
 Queria sentar-me mais chegado a você nestes dias mais frios e ter por fim como repouso para a cabeça seu colo macio, ou seu ombro seguro, ter suas mãos quentes e pesadas encontrando meus cabelos, minhas orelhas, meu pescoço, sentir enfim a carícia e o afago da delicadeza das pontas dos seus dedos, quase me tocando além físico, e eu enquanto isso fecho os olhos me perdendo do restante de todo um mundo vazio e complicado, premeditando um contexto que viria a seguir quando eu voltar a reabri-los, e balbuciar alguma coisa.
     Minhas palavras empapadas de lamentação enquanto lhe escrevo, quase choram rios de sarcasmo, e tendem a sair modeladas ironicamente aos olhos dos que só querem ler contos de fadas abobados e irreais. Pobre dos inocentes que ainda não conhecem o desamor, o desencanto, o desprazer, eu a muito descobri que os cavalos brancos não trazem o que a gente realmente sonha em ter, e este sim é meu conto, um conto real e irônico, calculista e aflito, meio atordoado vou deixando o “Era uma vez” pro final, pós aí um ponto. Sei bem que existe uma linha tênue que me corta ao meio, me parte em dois lados exatos e incomuns, imagine isso como o dia e a noite, a lua e o sol, o prazer e a dor, o racional e o ilógico, tudo isso se convergindo, entrando em combustão dentro de mim, esse linha tênue traça meu mundo, me envolve até o pescoço, e da um nó na garganta, agora deixo minha mente atirada a pensamentos quaisquer, perdida em um emaranhado de sensações, e enfim os meus sorrisos expandidos de canto a canto andam em paralelo com minhas lágrimas, um em cada parte dividida de mim, um bom, um ruim, um quente, um frio, o doce e outro amargo, e quando se cruzam, se unem, e se complicam, assim então posso às vezes chorar de alegria, ou ainda rir da tristeza.
 Hoje eu escolhi sair, tomar um café e sentir-me mal, sei que vou estar pesado, arfando quente entre um trago e outro, meus ombros vão estar mais caídos, e meu cabelo não vai estar tão arrumado, e nem minhas roupas tão bem cairão como antes, pretendo deixar a barba crescer, em dias assim escolho estar mais largado, em dias assim escolho, na verdade imponho e prefiro me sentir carente, sozinho, melhor ou digamos pior que isso é sofrer de amor, é sentir desamor, talvez amanha eu seja um hipócrita sorridente.
      Mas hoje não, hoje eu escolho tomar um café, fumar um cigarro, e ficar assim, sozinho, e se amanhã sentir vontade, volto a lhe escrever.

" Se o amor quer me deixar, me deixe num domingo, eu não vou reclamar, posso até achar que ficar só é lindo. " (Maria Bethânia/Roque Ferreira)

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