segunda-feira, 11 de julho de 2011

O primeiro do dia



      Acordei meio amargo, ou seria meio amargurado?
      Definir o que sinto pelas manhãs enquanto vou trabalhar não é algo tão simples, o sono não me deixa pensar livremente em definições, meu corpo não reage aos impulsos que o cérebro tenta emitir de imediato, eu queria mesmo era estar dormindo, pesado, sem sonhar, jogado de qualquer forma meio desmaiado envolto no meu quarto quente, vazio e escuro.
      Infelizmente digo agora meio com cara amassada e cabelo aranzel, meio lúcido “bom dia” a mim mesmo no espelho enjoado, depois de uma copada amarga e escura de goles rápidos vou transportando meu corpo entre um passo e outro, procurando equilibrar-me entre os meados de faces fadigadas, atrasadas, desesperadas por mais um final de semana, sacos de batatas perambulantes, é cada um por si, e pra ser mais sincero todos parecem estar de ressaca, menos eu, é claro que de mim eu tinha plena certeza. Boca seca, corpo abatido, ombros caídos, sentindo o frio arder nas bochechas, fui trocando as pernas e arrastando os pés formigantes até o primeiro botequim visível, este pelas sete e uns meados já pingado por vagabundos em busca da primeira refeição matinal, maldita pinga, me fez lembrar a noite anterior, ainda sinto tremeliques só de pensar em garrafas, não quero voltar a discutir o relacionamento entre eu e meu estômago. Lá tinha café, melhor dizendo "chafé", também tinha mosquitos, em um ambiente "daqueles" é melhor evitar a ânsia e permanecer na azia do dia, nem dei muita importância, queria mesmo era um cigarro, espero que aqueles dedos rachados e amarelos nicotina não tenham tocado o filtro desses dois, pensei assim pra “reevitar” a ânsia. Em dias frios assim, pós finais de semana aburridos, salvos por jogatinas, álcool e nicotina, sem pegação, (parece mais um filme francês filmado no sertão, devo estar com cara de cangaceiro “ressaquiado” indo buscar a próxima quinquilharia de cada dia), é sempre bom tomar um café de verdade, amargo, escuro, forte, daquele bom pra ressaca, bom pro sono, bom pra você se sentir confuso quanto quem é mais amargo, você o dia ou o café.
            De volta à lamentação da caminhada pensando na labuta que viria a seguir, fui deixando para traz um caminho de fumaça, alguns vagabundos maltratados, meio moribundos, aburridos com a vidinha desgastante tentando afogar as magoas no vadio ambiente, um sol mirradinho que tentava aquecer, mas não conseguia, tentativas frustradas, a minha, a dos vagabundos e a do sol. Queria mesmo era dormir, mas enfim, melhor perder mais uns minutos com outro cigarro enquanto me arrasto indignado pelo resto do caminho.

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