segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Escreve-se assim, as velhas novas despedidas,



Logo cedo vêm o tempo manso que aquieta o espírito fatigado efêmero, despedidas em domingos chuvosos não foram feitas para serem momentos felizes, despedidas em geral não carregam consigo grandes sensações gentis, mas esta em si, a parte de todas levou quase uma eternidade pra acabar. Foi aquela chuva triste do atraso de final de semana, melancólica de dias acinzentados caindo lentamente que cobriu uma vez mais por puro clichê aquelas insistentes e poucas gotas salgadas escorridas que tendiam a sair, em dias assim qualquer incentivo de melhoria parece ser completamente desprezível, qualquer pensamento parece vago, não a muito sentido nos passos, qualquer sorriso parece triste.
- Não me julgue por mais esses outros tantos cigarros, estou a tentar ficar calmo!
Como de pouco costume a pouco que tínhamos afim, percebe-se fácil que meu nervosismo em excesso me descontrola, minha dramatização inconseqüente não lhe agrada, minha mania de exatidão e detalhamento de tudo que foi dito para que não haja lacunas serve-me para aquietar o espírito, as dúvidas sempre me corroem posteriormente, não quero vacilar e me perder pensando que ainda caberia uma palavra ou outra em nosso monologo sobre “pontos e vírgulas”, mas se eu não fosse exatamente “ASSIM” talvez não lhe agradasse quem eu pudera ser.
Se não fosse por agora quando é que ouviríamos nossas músicas francesas temáticas com tanta apatia por toda essa literatura e melodia frustrante, com sensação de que elas nos remetem a safadezas de fim de noite? Se não fosse nosso enredo dramático criado pelo meu psicológico instantâneo que se diz centrado e maduro ou pelo seu descompasso emocional que me irrita constantemente, mas que me faz querer te apertar, te sufocar em um abraço apertado pra que você se aquietasse aqui comigo, talvez nós estivéssemos fadados a tardes em banquinhos de praças como quem dera um casal de décadas anteriores, aborridos e sem ânimo, desses que passavam uma vida toda para vivenciar os benefícios em apenas um dia ou outro para quem sabe sentirem se realmente vivos, sei que nós não seriamos tão bons amantes de noites de filmes em preto e branco com pipoca em uma salinha só nossa, prefiro ainda sentir aquele aroma de creme dental e vodca enquanto desleixamos com as roupas espalhadas pelo chão. Boa parte do que escolhemos por trilha nem mais fariam sentido, eu tenho pressa de estar livre de tal sensação que me aperta o meio do peito e que tende a fazer desejar não ser mais quem eu sou, vou criando asco a quaisquer vestígios de posteriores sentimentos duvidosos, ou de pessoas abstratas a mim, mas sei por vivência que é um desprazer passageiro, que indisposto estou a repensar, a errar, arrepender, me perder, encontrar, viver e viver por incontáveis e absurdas vezes esses malditos enredos prematuros escritos em linhas tortas.
Pense que de todos os meus defeitos o que mataria a ambos mais devagar seria meu cheiro de perfume e nicotina.
Mais um ou dois cigarros...
- Desculpa, ainda estou nervoso.
Meu defeito, meu prazer, se vê em misto de bom gosto vicioso. Não que seja a melhor lembrança de mim, é apenas um detalhe a parte do que eu sei ser, talvez quando abraçar alguém que por habito seja igual a mim, por lapso o aroma de nicotina, perfume e suor de outrem lhe trará a mente a imagem de dois corpos nus em transpiração ao vaivém de qualquer som alternativo de gosto comum, atracados por contrações práticas e involuntárias de prazer, ou ainda pelo lado sentimental, um simples abraço cômodo que deixa passar despercebido o nosso segredo aos olhos de qualquer outra pessoa boba, a não ser pela nossa troca de carinho meado a que fato mais nos julgariam? Nós sim estamos nos julgando e nos condenando a não sei o que exatamente, mas sei que estamos vacilando em algo. Se pós tudo não sentir falta alguma de qualquer sensação de presença minha, do toque, do beijo, do olhar perdido que encontra quando abre os olhos, das brincadeiras infantis, das descobertas íntimas, conversas desconexas ou descompassadas mal interpretadas, mas ainda assim bons diálogos, ou ainda da companhia pratica para virada de goles rápidos de qualquer dose de bebida quente para que sejamos menos enfadados da vida. Sim! Até mesmo nossos detalhes não tão exemplares talvez nos façam falta. Enganamos-nos quando desejamos vivenciar nossos sonhos em todos os mínimos detalhes quando na verdade somente alguns realmente têm a glória de vivenciá-los com exatidão, outros tantos incontáveis e lamentáveis seres apenas lhe fazem caso quando estão dormindo, vivência frágil e enganosa, mas ainda sim vivência sonhadora e saborosa.
Se você em sua forma de pessoa “erradinha e perfeitinha” não sentir falta de detalhe algum faço votos para que um dia tudo mude, e te elevo então a um patamar superior e lhe nomeio com desdém “ser bruto”, pode desfazer-se de tudo que te faz refletir ou se contrair de raiva por ainda pensar sobre isso, mas não apague de você o que te dediquei por breve tempo algo que denominam “a melhor parte de mim”.
Pense no tempo que esta sendo dedicado ao que escrevo só pra tentar ser menos ilógico quando lhe peço alguma compreensão ou resposta para todas as perguntas que faço, eu não procuro perfeição, sou pisciano, mas ainda assim realista demais para esperar que contos de fadas surjam cavalgando em minha porta, isso é a idéia infantil de relação, se existe algo em que concordamos por completo é sobre imperfeições, NINGUÉM vai ser o brototipo
Acho que eu devo confessar, eu ficava te esperando dormir primeiro que eu propositalmente, e por várias vezes enquanto lhe admirava dormir pesado percorria com os dedos suavemente, quase não lhe tocando, lentamente para não lhe acordar teu queixo, lábios, nariz e sobrancelha, e sempre me pegava pensando se eu realmente deveria estar ali, se não era melhor levantar sorrateiro e partir para outra vida que deixei lá atrás a algum tempo, e pela manhã, pelo primeiro beijo de hálito de bom dia eu desejava continuar acordando com tua imagem de anjo bastardo por vários outros dias seguintes.
                Tem algo queimando aqui dentro, é um enredosinho de romance semi cozido, com temperos peculiares, não tenha medo de aumentar a temperatura desse cozimento, errar a dosagem dos ingredientes é normal, perca o receio de misturar ou decorar um pouco mais de experimentar novas formas, não existe fórmula exata para este tipo de receita, se ficar sem sal, convenhamos que degustaremos muitos outros novos gostos, se o fogo acabar por falta de gás ainda podemos usar outros materiais combustíveis, mas não deixemos de provar-nos a toda hora para que possamos elaborar nossa própria receita de convivência sentimental.
Foi você quem me tirou de um desprazer cotidiano, foi você quem me fez sorrir, não te culpo por esse vácuo que estou sentindo hoje, ou pelas lágrimas durante o banho, essa saudadezinha que vai crescendo desde quando lhe dei as costas de noitinha vêm mansa e seria me dizer que eu deveria tentar lhe dizer qualquer outras tantas coisas. 
Mas por hora lhe deixo este ponto final camuflado por esta virgula,

3 comentários:

  1. Adorei o texto, você escreve muito bem, e carregado de sentimentos.. terminei de ler chorando!

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  2. Ótimo texto. Forte, bonito. Um declaração que estremece, que abala a gente. Se fosse comigo, mesmo que aquela pontinha de raiva-mágoa-ciúme-descontentamento ainda existisse, eu sentiria (e senti) meu coração amolecer. E diante disso tudo, apagaria essa vírgula e continuaria a história. Penso que vale a pena.

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  3. Parabéns Rafa! Muita coisa bacana por aqui! O/ Muito sucesso! BeijãO!

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